"Durante anos os governos pediram dinheiro emprestado a Londres e Paris para construir caminhos-de-ferro e custear as despesas públicas. A certa altura, os novos empréstimos destinavam-se exclusivamente a pagar juros dos mais antigos. A factura não tardou a chegar. Em 1891, quando as finanças públicas entraram em colapso, os encargos com a dívida externa ascendiam a 40% das despesas do Estado. A crise do crédito entrelaçou-se com a crise económica internacional e Portugal acabou por decretar a bancarrota, embora parcial (decretada a 13 de Junho de 1892, dado que com a corrida aos depósitos, o Banco de Portugal ficou sem reservas e outros bancos tiveram de suspender os pagamentos). Estava criado o cenário para pôr fim aos "desmandos" do Fontismo (a aposta nas obras públicas) [...]. O The Economist, (de 6 de Fevereiro de 1892) escrevia sobre Portugal: «O país está a viver acima dos seus meios. Mais tarde ou mais cedo era inevitável que acabasse em bancarrota».
Ferreira, Clara, "Portugal na Bancarrota", Visão História, nº 7, Fevereiro de 2010, p. 42-43.
"Preocupa-me, porém, que alguns artigos se centrem, quase exclusivamente, nas dívidas e défices orçamentais, como se o único problema fosse o despesismo dos governos. É uma maneira de levar a água ao moinho dos nossos falcões do défice, que querem reduzir a despesa pública - mesmo numa situação de desemprego massivo - e agitam a Grécia como exemplo do que acontecerá, se não o fizermos. A verdade é que a falta de disciplina orçamental não é a principal causa dos problemas que a Europa está a viver. A verdadeira razão desta "eurodesordem" é a arrogância das elites que levaram a Europa a adoptar uma moeda única, muito antes de o continente estar preparado para isso"
Krugman, Paul, The New York Times, 04.02.2010 - Courrier Internacional nº 170, Abril de 2010