Sorteio de duas televisões (do século passado) a quem oferecer mais
Vender algo semelhante ou parecido com a nossa integridade enquanto seres humanos a troco de uns cobres é um acto que me parece inqualificável, senão inexplicável. Mas este preconceito pessoal deve ter que ver com algo do foro patológico. Nem a actual crise económica me parece conseguir explicar, talvez nem desculpar, esta apetência que invade alguns semelhantes, ou talvez não, a venderem a própria mãe, ou a vender-se a si mesmos mais à sua pobreza de espírito como produto para consumo televisivo. Penso que os governos, a braços com as mui tímidas tentativas de controlar os desvarios do sistema capitalista, deviam igualmente observar os programas que os tubarões do audiovisual emitem através das licenças que lhes foram concedidas para criarem, difundirem e emitirem conteúdos televisivos. A liberdade não é para aqui chamada quando o que está em causa é a transformação em acontecimento televisisivo dessa tentativa de imbecilizar uma sociedade inteira. Alguns destes programas são terrorismo puro e duro e dirigidos por terroristas sociais. Sendo o panorama televisivo português constituído maioritariamente por programas que ultrapassam a pobreza confrangedora, no capítulo dos conteúdos, onde a procura e conquista de clientela entre os intervenientes no mercado do audiovisual colocado ao nível da bestialização, a televisão portuguesa parece-se hoje com os sanitários públicos de um hipermercado, em hora de ponta. Propus-me a desligar a televisão todos os dias e não apenas num determinado dia. Não, a partir de hoje, é mesmo todos os dias. Sejam programas fedorentos, ou da dita dona Teresa Guilherme, essa gurua da estupidez televisiva, entre muitos outros. Vou desligar a televisão e mandar os donos dos canais televisivos para o raio que os parta mais a merda de programas que emitem (hoje deu-me para isto, embora o dicionário do Sapo desconheça o termo, nada a fazer). Continuarei a pagar a famigerada taxa de áudio visual com cara de parvo, apesar das televisões ficarem mudas. Ponham-nos a pão e água e depois verão. Por falar em Verão, já estamos no Outono e as andorinhas ainda não partiram.