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Buarcos, Novembro de 2018.
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Buarcos, Novembro de 2018.
Do lado esquerdo, o molhe norte, a Barra, o molhe sul, o Cabedelo, do outro lado, na Outra Margem, o Farol de Santa Catarina, a Torre do Relógio, no direito, Buarcos, a enseada, na maré vazia vê-se a rocha a que chamam "Medroa".
Boa parte das rochas que ficam a descoberto na baixa-mar, tem um nome. Disseram-me.
A "Pedra Grande", é outra das pedras que já reconheço. Fica mais para lá, para o Cabo.
Altas horas, ainda há luzes, lanternas, com mar calmo, junto à rebentação, ou então com pequenos barcos a motor, que pescam também por ali, os as ondas quebram.
Com o mar bravio, os pescadores de cana são raros a pescar no molhe norte mas, nas noites de verão, parecem pirilampos.
Há noites de poalha, cola-se à areia e, mesmo assim, ainda se vêem as luzes dos navios, ancorados ao largo, aguardando pela entrada no porto e dos pilotos da barra que os levarão rio adentro, até lá acima, antes da ponte do Engenheiro Edgar.
Pouco mais acima da ponte velha, com sinaleiro, que ora mandava avançar de norte, ora de sul, consoante a sua vontade e o seu ponto de vista. A espera prolongava-se, por vezes horas, só passava um carro de cada vez na ponte, gerando, por isso, no verão, longas filas de trânsito.
Ainda lá passei, nos ultimos tempos do sinaleiro da ponte-velha, de carro, ia-se então fazer campismo para a praia Cabedelo, uma nesga de areia entre molhes, protegida por enormes blocos, que afunilaram a água, em direcção à barra.
Um ermo, com uma praia belissima, um enorme barracão, que servia de restaurante e tudo o mais que o viajante quissesse, passávamos o verão por ali.
As pedras que restam do Fortim, que pugnaram na defesa da enseada de Buarcos, mandado construir no reinado de D. Miguel, e arrematado por quinhentos mil e cem reis, é a paisagem do outro lado.
Bill Perlmutter - Nazare, Portugal, 1956
Tinham acabado de acender todas as torres de iluminação frente da Torre do Relógio, andava gente a passear com o cão às 10 da noite nos passadiços. Ao longe, as luzes de carros policiais circundavam uma zona onde, talvez de forma ilegal, estacionem ou deixam estacionar dezenas, ou talvez mais de uma centena, de "roulottes", que, num espaço/estacionamento ali se encontram, algumas delas quase o ano inteiro, junto à Foz. Enconstadas ao início do molhe de norte.
Durante aquela soubera-se que o concerto anunciado, que uma fadista daria naquela noite no Centro de Artes e Espectáculos, não havia sido cancelado, nem bares e restaurantes, que normalmente se mantiveram na azáfama rotineira e os centros comerciais que se mantiveram abertos ao público. As próprias informações dos órgãos noticiosos eram vagas quer sobre a manifestação do furacão quer da sua aproximação à costa. Parecia que ninguém sabia de nada, ou não ia acontecer nada. Embora os alertas de mau tempo e a aproximação de uma tempestade tenham sido públicos e conhecidos alguns dias antes. O vento começou a fazer sentir-se, com intensidade, por volta das dez da noite. Fomos tirar os carros da avenida voltando logo para casa. Já à varanda, pouco depois de chegarmos, começa a perceber-se, de repente, que a intensidade do vento aumentava de forma abrupta, entrou-se rapidamente em casa, fechando janela e estore. Ficamos a meia hora seguinte atrás da janela a segura-la. Assim que se começou a sentir vento a abrandar viemos à rua. A estrutura de um pequeno restaurante de cozinha asiática que se estendia no passeio havia desaparecido, donos e clientes que se haviam recolhido, na parte incólume que fazia parte do prédio, estavam encostados ás janelas donde gritam e esbracejam. Cá fora estamos eu, o meu vizinho da Ucrânia e dois chineses começamos a retirar cadeiras do meio de uma amálgama de ferro retorcido. Tu abraças-te a Xau. Enquanto não chegas-te eu e o vizinho ucraniano fumamos um cigarro, cada um o seu. Os carros estavam lá. O vento ainda se fazia sentir e já havia luz. Mas estava escuro com o breu.