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PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

28.Jun.16

um dia

dias, não são dias.

há dias a dias, não há dias sem duas

outros dias assim-assim, dias.

um dia é um dia, um de cada vez, ou não, talvez um dia

um dia a seguir ao outro

cada dia 

antes do meio-dia

ainda é dia?

Bom Dia

 

27.Jun.16

Conto para noite de Verão

há pouco observei, da varanda, um rapaz, mochila ás costas, pesada, que subia a rua, ingreme, olhando para o écran do telemóvel entre mãos, caminha lentamente quando, de repente, termina o que estava a fazer, colocando o aparelho no bolso das calças e olha, por entre o gradeamanto e as trepadeiras, a nesga de paisagem que caia sobre a Rua da Sofia. Em frente da varanda, do sétimo andar do prédio, onde fumo um cigarro, observo a paisagem, naquela primeira noite do verão do ano, o rapaz pára e alto, numa língua que me pareceu inglês, fala qualquer coisa na direcção da parte debaixo da rua. Não sabia da minha presença ali, nem sequer olhara para cima, talvez só assim me poderia ter vislumbrado. Tinha parado e virara-se para trás, falando alto para alguém que viria atrás de si e que eu não via ainda. Demorou um pouco a tornar-se visível quem lá vinha subindo a rua. Caminhava lentamente, surgindo ofegante pareceu-me, uma rapariga que subindo igualmente a rua, vinha atrás do rapaz.. Reparo que tráz consigo uma mochila de pequeno porte, e não tão volumosa como a dele, e dois sacos, cada um deles em sua mão. A luz dos candeeiros passou então a iluminar uma rapariga, de cabelos longos e lisos, atados na nuca, talvez alourados. O rapaz parou, dois passos depois, donde tinha falado para a parte debaixo da rua, para aquela parte que não se via da varanda e esperou que a rapariga transpusse os poucos metros que agora os separavam e chegasse até ele. Ela chega entretanto e pára junto dele, de frente, para ele. Olha-o, embora não troquem palavras entre si, visto de cima onde me encontrava, pareceu-me ver um acto carinhoso na troca de olhares entre si,  como se tudo aquilo já estive combinado antes de surgirem rua acima, um, atrás do outro. Bastou olharem-se para se entregarem a uma deliciosa troca de cargas ali mesmo. Num movimento pausado e tranquilo, como que respirando o ar quente da noite, entre si, mochilas, a dele maior e mais volumosa, a dela mais pequena e talvez não tão pesada, e  sacos, que haviam sido delicadamente pousados por ela no chão empedrado da calçada, trocaram de mãos e de costas. Findo todo aquele bailado de braços, prosseguiram caminho, o rapaz, à frente, que leva agora a mochila mais leve e um saco em cada mão e atrás dele a rapariga que agora leva apenas consigo a mochila mais pesada e volumosa ás costas, que o rapaz tinha trazido até ali. Continuaram a caminhar, depois daquela paragem, rua acima, desaparecendo na curva lá em cima.