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PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

16.Jul.13

Crónicas da Figueira (II)

 

(A verdadeira Garota de Ipanema, Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto. Um verdadeiro achado turístico este em bossa nova)

 

seguia há dias pela estrada que dá acesso à capital do distrito, remando por isso no sentido contrário à corrente do rio e dessa massa indolente, mole de doutores e anónimos coimbrinhas que se deliciam na beira-mar figueirense, quando percebo que estes ali se dirigiam já com um ar estupefacto e boquiaberto, certamente provocado pelas obras de requalificação, em tão boa hora encetadas, como sabem é sempre no verão, ou quase, quase no começo do Verão, que se fazem obras na nossa cidade. Obras que revolucionaram essa traça tão modernista do Bairro Novo que, por sua vez, estando ele mesmo cada vez mais novo, o Mercado é novo, o Jardim ainda cheira a novo também, a avenida de Espanha, catita, arborizada e rendilhada, O "ténnis-clube", ainda naquela habitual fase de arranca e põe e volta a arrancar, nada que não estivesse previsto, o Forte de Santa Catarina, mau grado aquele tubo que ligava o forte á praia, que ninguém sabia que existia, (atchim, Amélia, fecha a janela, que espirrei), onde, a esta hora nos muros antanhos e vestutos bate a força do repuxo, foi também ele recentemente dotado de uma colectividade sem fins lucrativos, é pois e agora o Bairro um conjunto de amigos e amigas de longa data. Empreendedorismo figueirense em grande seria apostar no aluguel de pequenos barcos à vela, ou umas traineiritas de lata, tão em voga noutros tempos, com os quais os alegres petizes veraneantes se deliciariam nas tardes prazeirosas da nortada a conduzir no agora célebre espelho de àgua que bordeja, a oeste, o renovado Forte de Santa Catarina, e de quem lhe reza pela alma.

Fazia horas para o regresso, quando parei ali junto da Ademea, onde ainda hoje se comem melhores enguias que seja lá onde for e muito menos na borda d'água seja lá isso onde for, tenha Armazéns ou não, é na Ademea que elas se comem melhor, sendo fritas e estiradinhas, que se não querem grossas nesta moenga frita. É provar e depois de contar os tostões dizer de justiça. Que isto de gastronomia dá direito a duelo de faca e alguidar assim que se deseje. Estendida a toalha, veraneante, que se preze, não deixa de olhar para o lado e cumprimentar o vizinho do rés-do-chão esquerdo, que isto de civilidade até na praia se deseja.  Mas não vá em folclores, ou vá, como no que Cardoso Marta e Augusto Pinto, recolheram e editaram entre 1911 e 1913 de seu nome «Folclore da Figueira da Foz»,  e que afiança o seguinte:

 

Menina da saia branca
com sua barra por baixo,
deixe ver o pintassilgo
pr`a meter o meu cartaxo.
O cartaxo quer casar,
a folosa anda saida,
e anda o pisquito de roda
p`ra lhe meter a torcida.
Vou-te rogar uma praga:
em casa te cáia um raio
que te cáia entre as pernas
e te rache o papagaio.
 
Por isso e quanto ao resto é melhor deixar para depois que isto de crónicas ainda tem dias contados.
02.Jul.13

Crónicas da Figueira (I)

 

 

Damos aqui inicío a um espaço de crónicas sobre História do Turismo turismo balnear. Nada melhor para começar que uma crónica gastronómica, em conversa ligeira pois os tempos não dão para muito mais que ir para a praia e frequentar esplanadas  e bares da moda figueirenses, como o "Pé de Salsa. Findo o Pateo das Galinhas, os "Coimbrinhas" desembarcam em Coimbra C, ligeiros e afoitos, com a juventude na primeira fila, rumo à Avenida do Mar, vulgo qualquer coisa que agora não me recordo, a outrora Avenida do falecido, ai mesmo, à praia, de mochila, os que chegam de combóio, ou em descapotável, os que rumam à Figueira da Foz, por outras vias, espalhando-se pelo extenso areal. Em Coimbra, a temperatura verificada nos últimos dias tem feito razias política, social e comercialmente bem como gastronomicamente, levando em debandada o pessoal "da corda" para a Figueira, nestes dias de abrasar. A bela cidade do Litoral Centro nunca deixou de estar na moda, em Coimbra, pois a então vila e depois cidade da Figueira da Foz,  cedo acolheu os veraneantes de Coimbra, ao Bairro Novo ou ainda na "Cidade velha", lentes e estudantes universitários, por meados do século XIX. Estando a restauração coimbrã pela hora da morte como era costume dizer-se, assunto que agora não se pode declarar desta forma, digamos, pouco heterodoxa. Em apuros, mas não quer que se saiba, cabe melhor nesta crónica despretensiosa. Mais ou menos isso. Nela em tirando o João dos Leitões, e aqui juro que não conheço ninguém no João dos Leitões, local onde se come ainda o melhor leitão em sande com o famoso pão da Mealhada, em Coimbra e seus arredores, outros locais que vejam a proclamarem-se ser reis disto e daquilo, não vos distraia do bom leitão não passando de revendedores de imitações baratas da célebre sande "com" leitão e não "de" leitão. Por isso, e, como não conheço lá ninguém, posso afirmar tal boteco de leitoadas, como o último sobrevivente de bem receber e de se bem comer leitão, em Coimbra. Passe à frente da montra do João e delicie-se. De outro local célebre o "Quim dos Ossos", ali para as traseiras da Portagem, falaremos adiante quando, a este templo, dedicarmos um capítulo inteiro. Serve assim, esta primeira crónica, para referir o excelente marisco figueirense que pode ser encontrado nas mais diversas cervejarias, e outras lojas de bric-à-braque do estilo. Recomendamos para mariscar o famoso Costa, na marginal oceânica, já para lá de Buarcos, e do seu tipicismo piscatório, na direcção da Serra da Boa Viagem, onde o saudoso Abrigo da Montanha, fenece a olhar as nocturnas luzes da cidade e da bela baía, ao longe, lá em cima. Perdoe-nos aqui a Dona Rosa Amélia, por, enquanto, não falarmos do seu palácio do bom marisco, a razão simples é a de que nunca pisàmos a alcatifa da sua aristocrática sala de vitualhas no interior de um dos mais antigos clube de Ténis do país. Talvez porque ainda se conserve o paladar das belas caldeiradas no igualmente mui antigo e nobre Teimoso. Ai sim, naqueles tempos é que era, dirão alguns, os frequentadores da época de ouro do célebre Teimoso Pai. A métrica poética de antanho serve aqui para desopilar da subída que os bólides percorriam velozmente na outrora mitica etapa automobilística da Figueira da Foz, durante o Rali de Portugal, a estrada que nos leva lá acima, à Serra, ao local do Abrigo que fenece. Igualmente para fazer soltar umas notas do fado de Coimbra, agora tão nas ondas, mas que  não se ouve, nem se vê, no Verão figueirense. O que é pena.  É, claro, espero eu, para todos, em sendo o fado uma expressão musical tipicamente coimbrã, não se toque na Figueira, terra pouco dada a conservadorismos. A não ser que os executantes frequentem uma escola de surf e  se façam ás ondas ou, a não ser, que se deixem as belas fadistas coimbrãs, que as há, e convém ouvi-las, soltar o seu belo canto, também. Bem, assim, se, leitoras e leitores, derem à costa junto ao costa comem do melhor marisco retirado ao mar fronteiro à Praia da Claridade. Gelados são o espirito do Verão português. Gelados é na Emanha, todo o coimbrinha conhece esta máxima, a PopGel, mantém-se debaixo deste mando/manto diáfano da realidade. Paz à sua alma. Pese embora na Costa Nova, povoação mais ao norte, junto à barra do rio Vouga ou de Aveiro, local onde, as gelatarias tem outro nome, mas que, em contrapartida, servem melhores gelados. Basta-lhe ir comprovar ou provar como queiram os leitores ou as leitoras. Dai sermos um pouco exigentes no que toca aos gelados no Verão. Ainda agora começou o Verão.