Crónicas da Figueira (II)
(A verdadeira Garota de Ipanema, Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto. Um verdadeiro achado turístico este em bossa nova)
seguia há dias pela estrada que dá acesso à capital do distrito, remando por isso no sentido contrário à corrente do rio e dessa massa indolente, mole de doutores e anónimos coimbrinhas que se deliciam na beira-mar figueirense, quando percebo que estes ali se dirigiam já com um ar estupefacto e boquiaberto, certamente provocado pelas obras de requalificação, em tão boa hora encetadas, como sabem é sempre no verão, ou quase, quase no começo do Verão, que se fazem obras na nossa cidade. Obras que revolucionaram essa traça tão modernista do Bairro Novo que, por sua vez, estando ele mesmo cada vez mais novo, o Mercado é novo, o Jardim ainda cheira a novo também, a avenida de Espanha, catita, arborizada e rendilhada, O "ténnis-clube", ainda naquela habitual fase de arranca e põe e volta a arrancar, nada que não estivesse previsto, o Forte de Santa Catarina, mau grado aquele tubo que ligava o forte á praia, que ninguém sabia que existia, (atchim, Amélia, fecha a janela, que espirrei), onde, a esta hora nos muros antanhos e vestutos bate a força do repuxo, foi também ele recentemente dotado de uma colectividade sem fins lucrativos, é pois e agora o Bairro um conjunto de amigos e amigas de longa data. Empreendedorismo figueirense em grande seria apostar no aluguel de pequenos barcos à vela, ou umas traineiritas de lata, tão em voga noutros tempos, com os quais os alegres petizes veraneantes se deliciariam nas tardes prazeirosas da nortada a conduzir no agora célebre espelho de àgua que bordeja, a oeste, o renovado Forte de Santa Catarina, e de quem lhe reza pela alma.
Fazia horas para o regresso, quando parei ali junto da Ademea, onde ainda hoje se comem melhores enguias que seja lá onde for e muito menos na borda d'água seja lá isso onde for, tenha Armazéns ou não, é na Ademea que elas se comem melhor, sendo fritas e estiradinhas, que se não querem grossas nesta moenga frita. É provar e depois de contar os tostões dizer de justiça. Que isto de gastronomia dá direito a duelo de faca e alguidar assim que se deseje. Estendida a toalha, veraneante, que se preze, não deixa de olhar para o lado e cumprimentar o vizinho do rés-do-chão esquerdo, que isto de civilidade até na praia se deseja. Mas não vá em folclores, ou vá, como no que Cardoso Marta e Augusto Pinto, recolheram e editaram entre 1911 e 1913 de seu nome «Folclore da Figueira da Foz», e que afiança o seguinte: