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PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

21.Fev.13

Para a História do turismo balnear - Figueira da Foz

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

         Há cerca de dois anos estive na Figueira da Foz durante um dia. Eu passei todos os meus verões na Figueira até ao fim da adolescência, em Agostos calmíssimos e um pouco antiquados, com aquele areal imenso e um sentimento difuso de comunidade, de convívio entre conhecidos, de burguesia a banhos. A Figueira não é apenas o meu passado (a minha infância) mas a minha ideia do passado (de um tempo antigo). Uma cidade pequena e balnear, com as ruas feitas de propósito para conquistarem um lugar tranquilo, indiscutível, na nossa memória, cores amarelas, áleas cheias de sombra, vivendas elgantes e modestas, bairros de desenho quase pueril, o luxo quase só despontando nas esplanadas com turistas, e mesmo assim muito discreto, árvores que sussuravam com as ramagens nas nossas janelas. E, na rua do Casino, os bonecos.

        Já não me lembrava dos bonecos. Dessa caixa de truques à entrada de um salão de jogos e que com uma moeda se animava. as articulações de madeira tornadas num teatro, os fios que mexiam as marionetas mecânicas, os músicos e os cavaleiros e a demais companhia que nos deliciava com o seu pequeno cinema. Não me lembrava dos bonecos, desses fins de tarde em que uma moeda uma sessão, nossa ou tomada de empréstimo de outros, um semicírculo de miúdos felizes com uma música festiva e as personagens articuladas que saíam dos seus sítios para durante dois minutos nos mostrarem o mundo de plástico e vidro em que estavam encerradas, fazendo o nosso mundo mais vasto e mais pequeno, igual ao delas, mas sem limites, a nossa imaginação como se tivessem os arames que guiam marionetas, tornando tudo possível ao preço de uma moeda ou ainda mais barato.

       Talvez não devesse ter regressado ao lugar onde fui feliz, ou assim me lembro dele, com as ruas baixinhas, quase de brinquedo, as multidões sempre pequenas, os vestígios da praia ainda no corpo ao fim do dia, entre um gelado e a caixa de bonecos. Quando regressei, de passagem, a cidade estava irreconhecível, mais ampla e moderna, já não era minha, a Figueira da Foz já só existe na minha lembrança ou imaginação, se é que há diferença entre uma e outra. Reconhecia os sítios mas não reconhecia o espiríto dos sítios, indistrinçável de quem eu fui, da infância como eu me lembro dela, plácida e segura e cheia de possibilidades. No meio dessa estranheza, entro na rua do Casino e vejo aquela ancestral montra dos bonecos, aquela caixa de madeira e metal, ainda na mesma entrada do mesmo salão de jogos, mas agora ela mesmo uma diversão arcaica, museológica, tão distante como a infância ou os anos setenta. Ninguém lhe ligava nenhuma. Ninguém usava uma moeda que tivesse sobrado, suponho que euros agora em vez de escudos. Os bonecos estavam parados, não tocavam, nem dançavam, nem faziam a sua coreografia automática mas mágica. Meti a mão ao bolso e peguei numa moeda. Quis pôr a infância em acção, musical e cromada, ali à vista de todos e à minha, o circo ambulante e estático da minha infância por entrepostos bonecos. Hesitei. Desisti. Virei costas e pensei: "Nada de melancolia".

 

 

Pedro Mexia, in "Os Bonecos Animados", Sábado2011 Vol. III, Janeiro de 2011.

20.Fev.13

Do cancioneiro popular português

Trova do Vento que Passa

Adriano Correia de Oliveira

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
o vento nada me diz.

La-ra-lai-lai-lai-la, la-ra-lai-lai-lai-la, [Refrão]
La-ra-lai-lai-lai-la, la-ra-lai-lai-lai-la. [Bis]

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

[Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

19.Fev.13

canções revolucionárias

Deixo aqui, com algumas emendas ao texto original, pedindo desde já desculpa pelo facto, mas igualmente por não as achar coadunáveis com o tempo, alterando deste modo o espirito do hino: do hino que todos cantam!

 

 

Nós teremos que vencer

 Nada temos a temer  

Da invasão capitalista.

Já existe a Legião,  Ao vento solta o pendão,  

Combatendo o capitalista.

 Não voltamos ao passado,  

Acabou o revoltado,  

Disso temos a certeza;

 E mais tranquilos andamos  

Porque todos confiamos  

Na Legião Portuguesa.

 Reparai no seu marchar,  

Os braços a oscilar,  

Elevando a mão ao peito.

 Garbosos e aprumados,  

São verdadeiros soldados  da ordem e do respeito.

 Ele é um soldado unido,  

Quer na paz ou quer no perigo,  

O seu lema é avançar.

 Respeita o seu comandante,

 Gritando sempre: Avante!  

Por .... (aqui colocar o nome que quiser)! (idem, aspas)!

19.Fev.13

Poesia dia a dia

SER DOIDO-ALEGRE, QUE MAIOR VENTURA!
 
Ser doido-alegre, que maior ventura!
Morrer vivendo p'ra além da verdade.
É tão feliz quem goza tal loucura
que nem na morte crê, que felicidade!
Encara, rindo, a vida que o tortura,
sem ver na esmola, a falsa caridade, 
que bem no fundo é só vaidade pura,
se acaso houver pureza na vaidade.
Já que não tenho, tal como preciso,
a felicidade que esse doido tem
de ver no purgatório um paraíso...
Direi, ao contemplar o seu sorriso,
ai quem me dera ser doido também
p'ra suportar melhor quem tem juízo.
 
 
António Aleixo