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PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

24.Jul.10

O verdadeiro castelo

Foto: BELISÁRIO PIMENTA, 1879-1969. Fundo Belisário Pimenta, Biblioteca da Universidade de Coimbra.

 

Chegados a meio da denominada época alta, do que em tempos foi o veraneio figueirense, desfaço equivocos. Talvez porque muitos não saibam porque se chama aquele edifício em ruínas que na esquina virada a poente domina a "sala de visitas" da praia da Figueira.  A Esplanada, onde se encontra, foi designada de Silva Guimarães, a partir de 1904. Há até quem lhe chame Castelo Silva Guimarães, mas mal. O Castelo Engenheiro Silva ficou a dever-se a Francisco Maria Pereira da Silva (Lisboa- 1913 / Figueira da Foz - 1891) que para esta cidade foi nomeado, por portaria régia, com a incumbência de promover o desassoreamento da Barra e regularização do Rio Mondego, durante a década de Sessenta do século XIX. O jeito acastelado, como se pode observar na fotografia, com que construiu o edifício original, veio a perdurar no nome do edifício e atravessou um século. Silva Guimarães, por outro lado, a quem foi atribuído o nome da Esplanada, foi um grande benemérito local e fundador da Empresa da Mina de carvão do Cabo Mondego. Desfeitas as confusões, atentemos com mais pormenor nesse "pequeno imbróglio" que domina a Esplanada Silva Guimarães, na Figueira da Foz: a ruína, o eminente desmoronamento do Castelo Engenheiro Silva.

20.Jul.10

Palavras cruzadas

Longe de querer, por ora, destrinçar o alcance das propostas, do Partido Social Democrata,  para alteração da Constituição, deixo  contudo um exemplo da sopinha de massa feita com letras que, numa leitura ainda na diagonal, me deixaram a fazer palavras cruzadas.  Onde se lê, por exemplo, nas questões do emprego e segurança social - artigo 53ª da Constituição, - "é garantida aos trabalhadores a segurança no emprego, sendo proibidos os despedimentos sem justa causa ou por motivos políticos ou ideológicos" o programa de revisão social-democrata propõe a seguinte alteração ou modificação, não me esqueço que estou no campo das palavras entrecruzadas, a expressão "sem justa causa" por "sem razão atendível".  Este caso, ao acaso, deixando entrever, de forma clara, a pretensão, o fim de ciclo dos liberais portugueses,  para entender esta afirmação observe-se o que na pátria do liberalismo está, na realidade, a acontecer,  que continuarm estruturalmente atrasados ideologicamente,  pretendendo apenas, com o beneplácito da alforria dos defensores da monarquia constitucional, adequar a Constituição ao novo "Açordo" Ortográfico. Pareceu-me, neste caso, porque noutros compreende-se melhor que as propostas, tornadas públicas, visam muito mais do que isso.

 

Imagem: VERA, Álvaro Ferreira de, 16---1677
Orthographia ou modo para escrever certo na lingua portuguesa / Alvaro Ferreira de Véra. - Lisboa : Mathias Rodriguez, 1631. - [7], 47 f. ; 20 cm.

17.Jul.10

A "velha senhora" gorda

 

 

Consigamos colocar os níveis de corrupção política e económica  ao nível do aceitável e teremos um país com um nível de qualidade de vida razoável para todos. Talvez dentro da média do aceitável.  Enquanto isso não acontecer nada de melhor se espere. Não vamos lá com as panaceias e receitas habituais. As tais que agora estão a aparecer de novo.  É necessário olhar para o país real, deixando de olhar para o país digital. Não  nos são necessários políticos que se limitam a repetir eternamente receitas de sempre - aumento de impostos, redução drástica das conquistas dos proletários - num país que mantém, por razões óbvias, elevados níveis de analfabetismo funcional e de "chico-espertismo",  designação  comum para o nefasto hábito daqueles que se "desenrascam" à custa dos  problemas alheios ou dos outros. No salve-se quem puder, hábito muito comum entre "bichos", Portugal apenas se afunda.

10.Jul.10

...

 

Uma das obras mais vezes reeditadas, quer na versão actualizada, como é o caso do frontispício que  apresentamos, este com a particularidade prefácio ter sido escrito por outro ilustre figueirense, o Professor Doutor Joaquim de Carvalho. Bem como uma chamada de atenção para a mais recente, editada este ano, em versão "facsímile" do original, que em boa hora o alfarrabista Miguel de Carvalho, com o apoio da edilidade local, colocou de novo nas livrarias. Esta última é de saudar vivamente. Quem se interessa pela História local dispõe agora de uma maior facilidade de acesso ao original sem o penoso recurso à sua consulta numa biblioteca, pois esta era até agora uma  obra cuja saída da biblioteca estava totalmente vedada.

Mas esta pequena memória sobre o precioso livro tem apenas intuito de aqui deixar transcrito o prefácio escrito por Joaquim de Carvalho, para a  edição de 1954, talvez uma parte pouco conhecida dos figueirenses actuais, merecendo, pelo que nele deixa vincado como idéias principais, de ser transcrito na sua totalidade e dado a conhecer quer pela riqueza descritiva que nele encontramos.

Escreve, Joaquim de Carvalho:

 

"Fui criado no respeito pelo Dr. António dos Santos Rocha, respeitado, aliás, por todos os figueirenses novos e velhos. A nomeada do seu saber e dotes de advogado, o reconhecimento pelos serviços prestados como presidente da Câmara, a fundação do Museu Municipal, inaugurado em 6 de Maio de 1894, a fama dos seus escritos e a própria impressão que se desprendia do seu porte, grave, digno, distante, sem familiaridades nem afectação, tornaram-no o figueirense mais representativo e considerado do seu tempo.

Falei-lhe uma ou duas vezes, no Museu, fugidia e timidamente, andava eu pelos quinze ou dezasseis anos, mas verdadeiramente nada posso dizer acerca do seu trato, porque não lhe frequentei a casa nem da sua vos recebi ensinamentos e conselhos. A sua morte, repentina, em 28 de Março de 1910, privou-me de com ele estabelecer relações do teor das que põe então estabeleci como o Dr. José dos Santos Pereira Jardim, seu cunhado, e com Pedro Fernandes Tomás, seu associado e colaborador em todos os empreendimentos intelectuais de significação colectiva. O meu acesso ao seu trato viria a ser, por assim, por assim dizer inevitável: abriam-mo estes dois saudosos e respeitados amigos, e facilitava-o a minha situação de estudante universitário, que por então dava certa categoria e, sobretudo, despertava no Dr. Rocha a esperança de um possível aprendiz de assuntos  que lhe eram queridos.

Não posso, pois, falar do Dr. Santos Rocha com conhecimento pessoal, mas o que me falta em experiência directa como que sobeja em informação de outiva, pelo muito e variado que me contaram os que com ele lidaram de perto, designadamente Pedro Fernandes Tomás, cuja amizade e consideração pela obra do criador do Museu Municipal e do Presidente da Sociedade Arqueológica da Figueira, fundada em 1893, lhe não faziam esquecer a mágoa pelo desapego com que deixara sair da Figueira a livraria de Aníbal Fernandes Tomás, o consumado bibliófilo que coligiu uma das mais valiosas e selectas livrarias de que há registo, e meu sogro, seu companheiro de rapaziadas que me ofereceu uma expressiva fotografia na qual se vê ter sido o Dr. santos Rocha na sua mocidade tão folgazão quanto o foi na maturidade homem grave e respeitável.

Tudo isto, porém, é, mais ou menos, do domínio da curiosidade, porque o ser profundo, ou mais propriamente, a individualidade histórica do Dr. Santos Rocha é constituída pelas acções do homem público e pelas páginas do escritor devotado ao estudo da sua terra natal, cujo passado e cujos progressos materiais e cívicos constituíram os objectivos mais incitantes da sua mente.. Do homem público, ficou memorável o zelo das duas administrações do Município (1878-1880) e (1902-1904) e, da actividade do escritor falam e falarão perduravelmente os escritos jurídicos, as explorações arqueológicas, relatadas com uma precisão e minúcia que sempre as tornarão actuais,e a monografia histórica sobre a formação e desenvolvimento urbano da Figueira da Foz -, Materiais para a história da Figueira nos séculos XVII e XVIII, vinda a público em 1893.

Todos os escritos do Dr. Rocha se caracterizam pela conexão directa e radical com os factos. A sua mente elevou-se, se um dúvida, a generalizações e interpretações de sentido teórico, designadamente em relação a certos pontos da arqueologia pré-histórica, mas a característica fundamental da sua mentalidade é a positividade, entendendo por tal o pensamento que se constitui e procura mover-se no âmbito dos factos directamente colhidos e observados. Os Materiais para a história da Figueira respondem não só ao ditame desta mentalidade, senão que a exprimem cabal e notavelmente. É que este livro, modelo de probidade intelectual foi pensado e construído somente com as fontes e dados  que o Dr. santos Rocha pôde colher directa e imediatamente na Figueira, no arquivo da Câmara, nos cartórios notariais e na copiosa documentação da Alfândega, que - habent sua fata libelli - providencialmente adquiriu e salvou do inevitável desaparecimento.

Sem estes documentos, não era, nem é possível a históriação do nosso burgo, mas sendo indispensáveis e de primeira água não são únicos nem plenamente suficientes. daí o Dr. Santos Rocha ter conduzido as indagações somente no âmbito do que lhe era acessível, dada a especificação dos arquivos figueirenses, mas o que, sob o ponto da extensão,implicitou limitações, deu ensejo, sob o ponto de vista do aprofundamento, à formulação  e ao desenvolvimento de temas que escapam ao comum dos monografistas locais e conferem a este livro uma posição singularíssima, senão única, no conjunto da já copiosa bibliografia das monografias locais.

No geral, ocupam-se das vicissitudes histórico-políticas, das ocorrências locais mais relevantes e dos usos e costumes, dando natural realce á biografia de conterrâneos de nomeada, nenhuma, porém, como os Materiais para a história da Figueira nos séculos XVII e XVIII tomou como objecta tão precisa e claramente a topografia, a formação do burgo e o seu desenvolvimento interno, crescença, e respectiva caracterização das actividades económico-sociais e da peculiaridade do seu conviver. Sob este ponto de vista, os Materiais são uma obra sem par, singularizada ainda pelo rigor do método, pela precisão dos informes e pelo valor dos ensinamentos sociológicos que desentranha e cujo alcance transcende as fronteiras do próprio burgo.

Como o título sugere, os Materiais não constituem propriamente uma monografia histórica, - o que aliás a proba consciência do Dr. Santos Rocha ressalvou nos períodos finais da dedicatória «aos conterrâneos» e que se não lêem sem comoção. São «materiais» no pleno sentido da palavra, mas materiais exactos e fundados, tão definitivos no respectivo âmbito que para sempre se imporão a quem um dia retome a historiação do nosso burgo com a documentação que o Dr. Santos Rocha não pode compulsar.

Tanto basta para assinalar o mérito dos Materiais para a história da Figueira, cuja reedição, oficial, por deliberação da Câmara Municipal, é obra benemérita, no pleno sentido da palavra, por conjugar, a um tempo, o respeito moral, o apreço intelectual e a gratidão pública pela memória de um figueirense exemplar na dedicação à nossa terra natal.

Nenhuma outra manifestação podia ser mais grata ao espírito dos que se associaram às justas comemorações do centenário do nascimento do Dr. António dos Santos Rocha; se o bronze do seu busto torna presente ao viajante a sua existência inolvidável, se a oratória das sessões deu a conhecer facetas da sua actividade, cabe à presente reedição a função meritória de instruir os jovens figueirenses no conhecimento da Figueira, cuja história, ao longo de incontáveis gerações, é ensinamento dignificador do valor da tenacidade do trabalho, do espírito de iniciativa e do amor da independência, que são afinal, as qualidades que contam na vida das famílias e na história dos povos."

Pelo que aqui ficou descrito, em traços largos, em 1954, deixo apenas pequena reflexão: estarão devidamente salvaguardado os espólios históricos de instituições locais como são os "Pilotos da Barra" e Porto da Figueira da Foz?

03.Jul.10

Coimbra a ver passar o Eléctrico

Em tempos que já la vão, responsáveis da edilidade coimbrã, tomaram a excelsa resolução de por cobro a uma forma de transporte obsoleta, poluente, ruidosa e marca de um tempo que Coimbra queria esquecer rapidamente. Cidade moderna, cosmopolita, não se compadecia então com este tipo de meio de transporte urbano. Coimbra, cidade de doutores olhava o futuro com elevo, os futricas esses não olhavam para lado nenhum. O passado era lá atrás. Hoje, os responsáveis de um novo meio de transporte - vulgo metro de superfície- entraram já na era das "obras inacabadas".  Projecto cujo o desfecho se prevê, após o gasto de milhares e milhares de euros, embolsados não na construção, mas na sua idealização, na construção da virtualidade do projecto, repousará na memória urbana, como repousou durante muitos e muitos anos a zona denominada como o "Bota Abaixo".  A megalomania do projecto redundará num "projectinho". Marcado agora para as calendas do fim da crise. Resta-vos olhar, não para a virtualidade, mas para uma realidade, que hoje, quase de certeza absoluta, permitiria a Coimbra, se tivesse sabido manter alguns dos percursos, possuir um motivo de atracção turística, de manter a sua identidade própria. Nem o Museu do Eléctrico coimbrão souberam ainda dinamizar convenientemente. Como se muitas cidades portuguesas se pudessem orgulhar de algum dia terem podido ver passar nas suas ruas este meio de transporte. Se bem me  lembro, recordando figura impar, só  três cidades dele  vão usufruir  já electrificado - Lisboa, Porto e Coimbra -  onde, segundo sei, não  foram mandados para um museu escondido e pouco visitado. Só outra cidade portuguesa, Figueira da Foz, possuíu,  até por volta dos Anos  Trinta, o denominado "carro americano" - já não vendo passar, no percurso que ligava a velha estação ferroviária local a Buarcos, a versão que depois seria adaptada à electricidade emergente.  Nas duas primeiras cidades ainda circulam, para gáudio do turismo, dos habitantes, mantendo identidade e marcando, com a sua presença no ambiente urbano, a marca do convívio salutar entre o modernidade e passado. Só em Coimbra...se ficou a ver passar, para sempre (?), os seus Eléctricos.

 

02.Jul.10

Viva a sopinha

 

 

 

Tenho andado com demasiada paciência. Mas ele há dias. Hoje, ao ouvir uma governanta aconselhar a ingestão de sopa,  dadas as qualidades nutritivas, à margem de um colóquio sobre obesidade infantil, segundo me pareceu, como forma de combater a execrável "comida rápida", dei comigo a pensar no preço dos vegetais necessários para a confecção de uma sopa. De uma sopa a sério, não daquelas de confecção rápida, empacotada. A dita governanta, ao belo estilo da Dona Maria, a governanta mais conhecida do país, parece que existe uma outra governanta com o mesmo nome, embora esta se dedique mais a passear os netos, não se apercebe que seria melhor para um efectivo combate à obesidade utilizar de novo as senhas de racionamento? Já agora será possível acompanhar a dita sopinha com uma bocadinho de requeijão de ovelha? Ou introduzir a açorda a nível nacional como ração básica dos esfomeados portugueses? Acabou-se me a paciência. Até à próxima e desculpem lá qualquer coisinha!