Ponhamos como mera hipótese se em Portugal todos os que desobedecem a uma ordem, seja ela de origem policial, judicial ou outras, fossem prontamente alvejados... por gente devidamente treinada, com curso de tiro ao alvo devidamente certificado (somos um país onde tudo está, e é, devidamente certificado), o país seria um enorme cemitério. Mas não. Normalmente são abatidos os que de uma maneira ou de outra, por opção própria ou não, fazem parte de uma população definida como "abatível" sem mais nem menos. Indivíduos que se podem deduzir à população geral sem que desse acto venha algum mal ao mundo. Por isso, e sendo um povo e um país onde se cultiva a obediência, um desobediente é um alvo a abater desde que devidamente identificado como alguém que pode ser abatido. Tal pressupõe a existência de uma determinada classe que não pode ser abatida seja porque razão for. Outros, pelo contrário, não são presos! Abatem-se. Não se sabe bem como. Mas aparecem abatidos. Daqui até a um verdadeiro Estado policial musculado é apenas um passo. Experimente-se, por exemplo, hoje, mais logo, ou amanhã, avançar para a rua em defesa de legítimos direitos pondo em causa aquilo que se denomina como Ordem Pública (um conceito muito maleável e ambíguo, e aqui recordo a titulo exemplificativo a actuação desenvolvida pelo então Primeiro-ministro e governo nos acontecimentos da Ponte Oliveira Salazar, de fresca memória), depois, se houver depois, digam-me o que aconteceu.