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PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

28.Fev.10

O SABOR DA DESPEDIDA

Enquanto Vilarinho das Furnas ecoa já na memória de muito poucos. Ecos de outros tempos. Um tempo calado, ressuscitado aqui e ali por memórias esparsas. Ou quando o estio mostra ainda o esqueleto em pedra da velha aldeia, erguendo-se fantasmagórica, após ter sido engolida pelas águas da albufeira alimentada pelas águas do Rio Homem. O documentário O Sabor da Despedida de Ivo Costa, joga com as palavras, as gentes, as emoções e a paisagem agreste e natural da última fronteira de um Portugal semi-selvagem onde tudo rima também com o nome de um rio: o Rio Sabor.  A destruição do património natural ali imposto, tal como em Vilarinho das Furnas, em nome de um progresso espúrio onde toda a  resilência será impossivel. A rever se possível e perceber como a Edp actua em nome desse progresso e dessa pseudo capacidade de o país se ir libertando da dependência energética através da destruição do património natural, paisagistico e humano.   Onde a envolvência desta nova catástrofe nos parece fazer ecoar os anos Setenta no século XX português. Continua-se a amolecer lentamente em Portugal. É essa estratégia de cerco económico e de silenciamento das populações erigido pelo progresso sentado nos gabinetes da capital que urge ser denunciado. O documentário surge como objecto de preservação memorial da envolvência que rodeia o rio Sabor, o último respiro, um adeus. Sabe a desistência. A morte anunciada.

 

Post Scriputm: A versão completa do documentário pode ser vista AQUI. Obrigado IMCA.

26.Fev.10

A Cloaca

 

 

Jaime Cortesão:

"Antes de mais nada, a crise não é política, mas nacional. Com o nosso actual tipo humano dominante não há regime político capaz de tornar próspera a Nação. Não é o regimen, nem a agricultura, nem a indústria, nem as finanças que verdadeiramente estão em crise. O que em Portugal há alguns séculos está em crise é o Português."

Citado por Vitorino Magalhães Godinho em "Reflexão sobre Portugal e os Portugueses na sua história", Revista de História Económica e Social, nº 10, Julho-Dezembro de 1982, p. 3.

 

23.Fev.10

Ontem, hoje, espera-se que amanhã seja diferente

Ontem sobre o "Prós e Contras" :
a extraordinária informalidade de António Manuel Hespanha. A complexidade presente não impede de continuarmos a reconstituir e a estudar o passado e a realizar comparações. Na análise encontram-se momentos semelhantes ao presente e tal nunca impediu que não fossem encontradas soluções. Numa sociedade onde as marcas do Estado Novo ainda perduram, impedindo a democracia e a sociedade de respirarem saudavelmente, não poderíamos esperar que 30 e poucos anos bastassem para mudar o rumo mental do país. Repare-se na antiguidade do rotativismo político português e nas organizações (Maçonaria, Igreja, poder económico) que ainda não se ajustaram aos novos figurinos mentais e de comportamento.

19.Fev.10

Da sobrevivência das Moscas

Foto retirada de O Tempo Contado

 

           Chegou o tempo de as ver a saltar. Salta mosca, salta mosc

                               a

                                    a

                                        a

                                            a

                                             a

                                           a

                                        a

                                     a

                                   a!

                                PLOF!

19.Fev.10

um reino de aparências

 

 Foto: Miguel Valle de Figueiredo

Há tempos fora Presidente da República, agora o Primeiro-Ministro, com pompa e cerimónia, ou mesmo sem estes requisitos, dirigiram-se ao país. Exigiram luzes e microfones sobre si. Algum deste país, o que ainda se preocupa, parou para escutar. O assunto era o mesmo ou em tudo quase semelhante: "escutas" telefónicas ou "mails" desviados. Segurança das comunicações privadas. Controlo sobre os média. A privacidade de um político começa onde? O que vieram ambos dizer? Ou esclarecer, se quiserem. Nada. Ou quase tudo. Absolutamente nada. Ou absolutamente quase tudo. Vivemos já num país onde apenas impera o tédio.

17.Fev.10

Da maralha

  imagem retirada da Biblioteca Nacional Digital

 

Eles, os políticos profissionais, dizem-me que falam em nome do povo. Que governam para bem do povo. São assertivos em nome do povo. Quando este lhes vira as costas passam, entre dentes, a serem a maralha. Gritam aos telemóveis que esta merda da maralha devia ser posta na ordem. Quando o povo passa a maralha, indigente e malcomportado, é tempo de arranjar empregos bem remunerados na Europa. É chegado o tempo, embora estejam já avisados muito antes do tempo, de partir. Outros ocuparão o seu lugar. Iguais. É vê-los então a partir, tristes, zangados, dizem-me. Uns, porque políticos profissionais, obrigados a sair com indemnizações insanas combinadas através de contratos, redigidos entre si, outros, porque elevados ao grau máximo do técnico, escolhidos entre as estreitas fidelidades partidárias que se estabelecem. Refugiam-se, alguns, no novo "El-Dourado" europeu, não por mérito antes por negociação estabelecida no seio do podre equilíbrio das nações mandantes da Europa. Sabemos isto. Sabemos que este é o círculo que há muito nos foi desenhado. Somos simplesmente a maralha.

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