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PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

18.Jan.10

Da vida da poesia

 

 

CANÇÃO DE UMA SOMBRA

Ai, se não fosse a névoa da manhã
E a velhinha janela onde me vou
Debruçar para ouvir a voz das cousas,
Eu não era o que sou.

Se não fosse esta fonte que chorava
E como nós, cantava e que secou ...
E este sol que eu comungo, de joelhos,
Eu não era o que sou.

Ai, se não fosse este luar que chama
Os aspectos à Vida, e se infiltrou,
Como fluido mágico, em meu ser,
Eu não era o que sou.

E se a estrela da tarde não brilhasse;
E se não fosse o vento que embalou
Meu coração e as nuvens nos seus braços
Eu não era o que sou.

Ai, se não fosse a noite misteriosa
Que meus olhos de sombras povoou
E de vozes sombrias meus ouvidos,
Eu não era o que sou.

Sem esta terra funda e fundo rio
Que ergue as asas e sobe em claro voo;
Sem estes ermos montes e arvoredos
Eu não era o que sou.

Teixeira de Pascoaes

16.Jan.10

Encomendazinhas

 

Corria o Rotativismo monárquico...mais coisa, menos coisa...a imberbe burguesia nacional, nascida por entre as cinzas da velha, depauperada e absolutamente arruinada aristocracia, necessitada de reconhecimento, nascida urbana, mas com os dois pés assentes completamente na ruralidade, pedia para si medalhas, comendas e prebendas. Comprava. O dinheiro havia-lhe chegado por via de um grande negócio que foi a a "venda dos bens nacionais", ali, mais coisa , menos coisa, entre 1834 e 1843. Tentando, e conseguindo, substituir os antigos terratenentes irá copiar-lhes (para muito pior) os tiques e o estilo. O regime não se faria rogado. De tal modo que cresceu o dito "foge cão que te fazem barão. Para onde? Se me fazem conde!", tal o despautério das atribuições. A República, também ela, não fugiria aos tiques herdando, e reproduzindo, por sua vez, aquilo a que procurava, e em grande parte conseguiria, desmanchar. Aos cem anos dessa mesma República estou eu para aqui boquiaberto com semelhante desconchavo da Centenária.

11.Jan.10

Um post para o outro mundo

Ora como quem não posta, não existe. Eis o "post" de hoje!

 

Fábrica de produtos "Coração"- Porto. Publicidade antiga 

 

Imagine como seria dormir assim! Imagine! Ima...gi...ne. I...ma...gi..ne! I...m...a...g...i...ne! Bons sonhos!

 

Post Scriptum (avant la mort):

Vá lá esqueçam os cheques e a atribulada vida daquele departamento estatal que há uns mês atrás, dizia o ministro da tutela ministerial, estava impoluto. Esqueçam. Fufff! Ainda não adormeceram?

10.Jan.10

À beira-mar

Se reparem bem a banda italiana "Lost", é preciso conhecer o enquadramento, resolveu filmar parte de um vídeo nas instalações do porto na Figueira da Foz precisamente no ano em que aconteceram importantes alterações na configuração orgânica do porto local. Trabalhar num porto tem, como em tudo, momentos perfeitos e imperfeitos. Contudo nada está perdido, bem pelo contrário.

 

09.Jan.10

Spleen

Quando faz frio,

recolho-me entre os meus, aconchego-me.

Olho a paisagem através da vidraça, onde gotículas dispersas se entretêm, numa dança estranha, entre si.

Vultos atravessam a estrada, em frente,

sem direcção, estremunhados e fugidios.

Um cão ladra mais para além.

Leio, acerto palavras, tacteio folhas envelhecidas que recordam que já existiram outros mundos. Outras gentes.

Rebusco memórias doutros invernos entre papéis dispersos.

Calculo distâncias. Aquela a que os meus bisavós estão e não consigo encontrar uma data. Precisa ou quase.

Tento entrever-lhes os rostos.

Deixo-me embalar em memórias.

Viver de quê? Se o tempo se desconjunta.

Se o tempo me chama.

Se o tempo me quer.

 

Carlos Freitas/10.01.09

 

07.Jan.10

No ar uma certa epifania...será da época?

Não nutro pruridos absolutamente nenhuns sobre a personagem política nem pelo indivíduo enquanto pessoa. Alegre é um poeta e um combatente pela liberdade e instauração da democracia em Portugal. Sei uma coisa: Cavaco foi eleito com os votos do partido a que pertence, daí cada um tire as conclusões que mais lhe convierem. Alegre, ele mesmo, derrotou o candidato escolhido pelo seu partido. Não alinho em fantochadas só porque surgem com "rótulo" de esquerda. E não me apetece marchar contra Cavaco, apetece-me marchar contra o estado da situação toda. Criada pelo tal partido que se diz de esquerda moderna, nem sei muito bem a que se referem quando falam em esquerda moderna, penso até que nem eles sabem muito sobre tal rótulo. Mudar o PR não resolve absolutamente nada de nada.

 

05.Jan.10

Mundo em extinção

Lento observador da realidade que circunda vou dando conta que a blogoesfera portuguesa se reorganiza. Opta agora por juntar-se em blogues multi-disciplinares, onde se movimentam diversas indoles pessoais, embora devidamente enformados politicamente ou culturalmente. Aparentemente tal aconteceu no Verão passado. Os blogues e os blogueres cada vez mais menos anónimos, o que é capaz de querer assinalar que a cidadania lentamente se instala, cada vez mais menos solitários, o que demonstra cabalmente o quão tende para o gregarismo a sociedade humana. A necessidade de sobrevivência (é disso mesmo que se trata) tende para a reunião descartando o individual. Assim pega-se numa qualquer plataforma, juntam-se vários comentadores ou blogueres, misturam-se bem os ingredientes, procurando atrair e fidelizar público leitor como, em outros tempos, o faziam nos jornais. Estes surgem agora como uma espécie de revistas culturais diárias ou não, cuja pretensão última é a de ocupar espaço na rede e redimensionando aqui o papel dos médias tradicionais. Sendo a opção respeitável, não proponho sequer transformar-me num defensor de qualquer tipo de pureza blogo/esférica, nem desta ser guardião, dou contudo nota da evolução. Assinalo-a como um facto de pormenor. Importante para alguns, menos para outros. Contudo reveste-se de alguma importância. Do comentário, à noticia sobre determinado assunto, os blogues colectivos erguem-se como os grandes adversários do jornalismo tradicional, do jornalismo impresso. O filme Stat Of Play onde Russel Crowe protagoniza o velho jornalista de investigação, numa imagem muito estereotipada do fumador inveterado, levemente alcoolizado e genialmente desorganizado pretende mostrar, entre outras coisas mais interessantes, o recente e já à muito anunciado embate entre esses dois mundos, através da ligação com a jovem editora da página on-line do jornal, num esforço último de imagem poética do jornalismo e dos média tradicionais que pretende conjugar dois mundos aparentemente antagónicos. Os blogues, que começaram por ser diário pessoal, por vezes intímo e muitas vezes anónimo, também eles tem os dias contados. A blogoesfera é também ela, cada vez mais, uma máquina onde se pode vir a ganhar dinheiro ou obter algum lucro com uma actividade que começou por ser individual e que o hábito e a qualidade, de alguns dos intervenientes, vão dando fama e proveito. Através desta espécie de revistas cor-de-rosa (estas no formato impresso continuam de boa saúde, como é sabido) onde se procura aliar o útil ao agradável a blogoesfera avança em direcção ao futuro. Mundo onde o individual tem cada vez menos espaço de ser ou de aparecer. Talvez um mundo em extinção. Escrevi talvez. O bloguer solitário  é já uma imagem que se desvanece na bruma das novas tendências.