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PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

07.Dez.09

Corrupção

Entre um profundo conhecedor da realidade social portuguesa

 

 

 

E este caso norte-americano.

Dirão, possivelmente, que o caso americano é um nítido reflexo da crise actual. Fico sem saber se essa referência diz respeito à crise energética, económica ou ambiental, ou se tem alguma ligação com a ancestral perspectiva portuguesa que afirma "ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão". Adágio que, no caso dos bancos, ou das forças policiais, tem os seus próprios reflexos no imaginário popular português. Por cá, não há muito tempo, era costume, colocar-se no interior da carta de condução uma notinha, ou várias, consoante as posses económicas, para adoçar a autoridade policial, quando esta desempenhava a sua missão. Como por vezes a missão do pessoal fardado ultrapassava os códices nada como um subornozinho para atenuar a rigidez legal da sua actuação. Ambas as partes, em conflito, agradeciam.

Começar pelo vulgar cidadão é  verdade de La Palisse, como muito bem sabe Oliveira Martins. Pensar que o exemplo tem de vir de cima é já um outro assunto. Como alguém afirmou ética e moralidade não se decreta, nasce. Cria-se. Incute-se. Até porque ninguém, em seu perfeito juízo, se pode esquecer que quem exerce o poder, fora dele, não passa de um mero cidadão.  Dai que deste obscuro ponto do globo possa estar espantado com a atitude do polícia americano. Embora, no caso, não tivesse prendido a mulher, sabendo, como sei, que se prender os grandes corruptores, estes  pequenos corruptores desaparecem num ápice.

05.Dez.09

da praga de chico-espertismo galopante

 

 

Quando alguém sem competência para gerir, não compreende que um compromisso que se assume é assunto que deve ser respeitado, a solução preconizada já tem algumas décadas, pois circula desde o ano de 1949. Nada que a ingestão de alguns rebuçados, que já foram considerados medicinais, que a nomenklatura de Bruxelas obrigou a retirar do nome original, passando a designar-se simplesmente rebuçados peitorais, não ajude a suportar o inverno que se aproxima. Aliás uma pequena visita à página deste produto mostra como se pode sobreviver sem estes "chico-espertos" que empestam o ar que respiramos. Quando se detecta que o Conselho de Administração da empresa onde trabalho, na qual entre Presidente e dois vogais a verba anual despendida com a sua massa salarial ronda os 161 mil euros ano, sem nela serem contabilizados gastos de representação e outras compensações, eu apenas pergunto porque é que a rentabilização de uma qualquer empresa pública tem que ser feita apenas à custa de sobrecarga horária, flexibilização desenfreada do regime de trabalho e da redução da massa salarial, da precariedade das instalações, etc.,etc., dos restantes trabalhadores? Porque é que a rentabilidade só deve assentar única e exclusivamente sobre os ombros de alguns e não se divide pelos vários sectores da empresa pública? Mas é claro nós, que somos umas bestas, não podemos fazer perguntas, não temos "massa crítica" para afirmar que compromissos assumidos devem ser cumpridos e que existem prazos razoáveis para que eles se concretizem. Se ficarem com muita tosse comprem um saquinho de rebuçados do Dr. Bayard, claro.

03.Dez.09

A voz vem cá de dentro, pá.

É pá eu já me estou a borrifar pra as marisas prás mafaldas e carminhos, eu sei! não tem nada que ver com sexismo, pá. mas é assim eu acho que esta dupla, e esta voz é que são o nosso fado. O fado que habita cá dentro. Que vive dentro de nós. o resto é pra exportação, como dizia o outro, é pra inglês ver, ó pá eu nem sei quem é esse inglês, pá, ou japonês ficar ainda mais cum os olhos em bico, pá. ora ouve lá pá... e depois deixa-te levar e diz-me que o fado morreu...eu que até nem gosto de fado, pá. Isto nem é fado pá é a voz pá, a nossa voz... tirando aquela mota foleira que aparece lá no meio do vídeo pá, esquece isso pá, afinal fecha os olhos pá, deixa-te levar pela voz. isso é que é importante pá. Eu sei pá, eu também já estou a  ficar surdo pá, mas deixa lá, põe isso mais alto, pá. E ouve pá. Ouve. E deixa-te de lamúrias, pá. Ajuda a fugir daqui, pá, desta merda, deste pantanal...deixá lá pá. Eu sei que não podes fugir pá, mas ouve a nossa voz. a única voz que nos resta pá e aquela flauta pá que já nos acompanha à imenso tempo pá e ninguém liga pró  homem que está por detrás daquela flauta pá. Que merda de país este pá.

 

03.Dez.09

simples pormenor...

 

 

"Na altura de retirar as bolas, eis que quando retirou a bola da França, a actriz exclamou bem alto “Irlanda!”. A piada (ou forma de protesto) provocou o desconforto entre os presentes e Jérôme Valke, secretário-geral da FIFA, não deu grande importância:”Ela disse isso, mas foi só uma piada”, provavelmente, querendo que amanhã, durante o sorteio, Theron não se lembre de repetir a graça.

A actriz, uma das apresentadoras da cerimónia de amanhã, é adepta da selecção da República da Irlanda, afastada do Mundial pela França, com um golo irregular e Thierry Henry, dado que o seu companheiro é irlandês. "

 

Charlize Theron é actriz. Sul Africana. Proveniente da enorme miscelânea de cruzamentos acontecidos num país que em finais do século XX resolveu mudar o curso da sua história. Opinativa. Como bem sabem aqueles que acompanham o percurso cinematográfico da actriz na tela de todas as evasões e de toda as realidades. Em muitos dos filmes que protagoniza surge por vezes irreconhecível. O seu estatuto no  "star system"  americano é algo muito dúbio devido às suas posições e opções, estéticas e não só. Contudo Theron demonstra com esta piada no decurso dos ensaios da cerimónia do sorteio de 4 de Dezembro algo mais que a simples piada. Toma partido perante o desconforto e a corrupção no mundo do futebol. A questão do seu namorado ser irlandês serve para indiciar, tentando disfarçar o sucedido, como se o pormenor fosse o principal motivo da tomada de posição. Mas esse é pormenor que apenas interessa a revistas cor-de-rosa. O namorado podia até ser chinês. A piada e tomada de posição representa muito mais. Representa opinião. E ela sabe que as suas palavras accionaram mecanismos que podem vir a alterar a visão da realidade. O que nos dias que correm  é muito mais importante que tudo o que se possa dizer sobre o futebol ou a nacionalidade do putativo namorado. A escandalosa forma como foi apurada a equipa da França devia obrigar a "tribo do futebol" a reparar os danos provocados pelo anquilosado e corrupto sistema em que sobrevive. Na realidade o lugar da França no Mundial de futebol na África do Sul é, de pleno direito,  da Irlanda, como todos bem sabemos. Se reparamos bem até a equipa portuguesa já sofreu as consequências do  "star system" que rege o sistema futebol. Com muitas probabilidades soou a hora de mudar o rumo nas cúpulas que mandam no chamado desporto mais popular do mundo. Este pode ser até um pormenor, embora existam pormenores que prevalecem.

01.Dez.09

da representação e simbologia do poder

 

Sou um mero e simples atento observador das representações do poder. Contudo dou pouca ou nenhuma importância a cimeiras, nestas deleito-me a observar os detentores do poder a enovelarem-se entre si, criando laços. Tampouco me interessam os discursos, embora através deles, se produzam leituras interessantes da realidade em que vivem as personagens que os produzem. Nem atento nos os chás dançantes e outros acontecimentos do mesmo teor, com que a cúria se entretêm entre si. Destes retiro a pilhéria das relações sociais que se estabelecem. A vaidade do mundo que vive do luxo que outros pagam. Procuro por isso apenas vislumbrar o que de mais profundo representa o poder e as suas manifestações que de si produz. Vacuidade, disfarçada de responsabilidade. Isso e mais umas quantas ideias que me escuso a partilhar.

01.Dez.09

Instrucción sobre el gobierno de España

 

 

Aparentemente, pelo que observo entre os diversos inquéritos de opinião, a esmo um pouco por todo parte, muitos dos meus compatriotas conhecem a razão das comemorações que estão na origem do feriado de 1 de Dezembro. Embora as razões, liofilizadas pelo historicismo do Estado Novo,  pouco ou nada tenham que ver com a realidade contemporânea. Nela reparo que os monárquicos portugueses, convictos, se deviam congratular com a nossa dependência económica actual, a fórmula de anexação do século XXI, do execrável regime político espanhol. Ao comemorar a morte do conde andeiro apenas estaremos a dar vivas aos novos condes de andeiro. Com a subtileza do elefante numa loja de louça observo esse ressurgir de condes e viscondes de dá cá aquela palha nesta província espanhola onde habito. O retornar de definições sanguíneas e terra tenentes entre essa pseudo aristocracia do Condado Portucalense, recorrendo a velhas fórmulas de distinção social, demonstram claramente que pouco mais tem a que se agarrar do que a designações abolidas à quase um século. Permitir que isso aconteça é desacreditar os valores que estiveram na origem da Restauração. Comemorar a Restauração é simplesmente hoje um acto de hipocrisia efectivada por um regime enredado em múltiplas contradições históricas e sociais. Resguardemos a memória mas não se oculte as contradições de 1640 e as de 2009. A revolta foi popular, iniciada em Évora, cidade onde se deixou de respeitar os filhos de algo e a própria hierarquia religiosa, por sinal a mesma que vigorava nos dois lados da antiga fronteira. Revolução incendiada pelo aumento de impostos,  o detonador da recomposição das monarquias ibéricas. Realçar a importância da acção popular é pois tão ou mais importante que apenas comemorar um feriado com profundas raízes no ideário da monarquia e dos seus actuais defensores. Fazê-lo é apenas, e só, a mera constatação de que são os esquecidos da História que fazem com que o mundo se mova. E essa é a prova que não existem habsburgos, nem braganças, que dominem para sempre. Entretanto o povo aclama o poder restaurado. Afinal que pode fazer mais um povo. Acreditar que o novo poder será diferente do anterior. Grave erro, como se sabe. O problema é que os deserdados da História passam a vida a lutar contra as dominações. De geração em geração. Ontem e hoje.

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