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PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

29.Nov.09

Prosas Vadias

Resumindo e concluindo sou contra os conservadores e o conservadorismo. Afinal de contas eles, os conservadores, apenas querem conservar qualquer coisa. Seja o actual estado das coisas, sejam as coisas no seu actual estado. Embora não tenha nada contra os nostálgicos que, embora conservadores, apelam a um outro tipo de sentimento, mais elaborado, procurando que as coisas boas não desapareçam. Daí que hoje tenha chegado à conclusão que sou nostálgico e tenha usado um sobretudo dos antigos para ir comprar cigarros. Fui e vim agasalhado. A fumar um cigarro. Contente com a minha nostalgia por sobretudos e cachecóis.

 

27.Nov.09

Da rolha ou sobre rolhas

Em tempos que há muito passaram a palavra rolha escrevia-se com acento circunflexo na letra o, aparecendo escrita rôlha. A reEncarnação da rolha reapareceu em Coimbra. Imposta agora pelo actual Presidente da edilidade, justificada, ao que parece, pela falta do referido acento gramatical. Achamos bem. Embora com o novo "Açordo" Ortográfico em vigor, estamos do lado dos que defendem a pureza da escrita pátria. Por outro lado vedar o acesso dos jornalistas às reuniões do executivo camarário revela-se uma boa oportunidade para os jornalistas e os orgãos de comunicação social local exercerem o seu ministério com mais afoiteza. A demasiada dependência ou interdependência destes dos partidos políticos e vice-versa deixa neles pouco espaço para os problemas reais. Ou seja a proibição não será assim tão nefasta. Já sabemos, de forma profusa, que a governança das localidades dá azo, na maior parte das vezes, a situações bastante caricatas e até nefastas para a vida da Rés-pública. Por isso ocultar aos olhos do vulgar cidadão a debilidade dos governantes não é um crime lesa - Pátria, nem assunto que lhes interesse. Bem pelo contrário. A pouca sanidade mental dos cidadãos fica assim protegida das atoardas quer da oposição, que se no poder agiria por seu lado da mesma forma, quer do poder dito democrático poder exercido pelos eleitos vencedores em nome dos eleitores vencidos.

António Vilhena, o poeta das musas mondeguinas, descreve a situação na crónica de opinião que assina no Diário de Coimbra,  do passado dia 26, deste modo: "No meio da floresta há muito ruído, alguma hipocrisia e muito populismo discutível.". Encantado pela pureza desta reflexão resolvo estende-la ao comprido abrangendo todos que ficaram fora do pano. ou dele querem ficar. Assim sendo, o "muro de cetim" que passou a envolver as reuniões do executivo local não é uma má medida, é uma medida como outra qualquer, ou muito semelhante a outras tomadas por outros em circunstãncias diversas. São avulsas e compreensíveis nesse contexto. Atente-se neste pequeno vídeo surripiado ao "Sexo e a Cidade" até onde chega a explicação... a educação e o "fair-play" do senhor Presidente da edilidade, na realidade o Cardeal Richelieu não faria melhor.

 

27.Nov.09

Neste caso onde está o Lambe-capacetes?

Figura sobejamente conhecida, o Lambe-botas, passou a contar com um concorrente moderno, saído das normas de segurança e higiene no trabalho: o Lambe-capacetes. No fundo a sua trajectória, o seu "modus-vivendi" é o mesmo. Aparentemente simpáticos e bem falantes, jogam no factor de quererem parecer o que na realidade não são, o capacete serve na maior parte dos casos para esconder alguma debilidade mental e falta de conhecimentos. Hierarquicamente estão ao mesmo nível do "Lambe-botas" e do bufo-real. Na realidade apenas deixou de efectuar a sua tarefa ao nível do chão. Mudou de andaime. Bem ajaezado no seu capacete luzidio, que só coloca para ocasiões especiais, ei-lo que se distingue dos demais. O capacete está hoje para o chapéu de coco de ontem. Como todos aqueles que são na realidade obrigados a usar capacete fora das ordinárias sessões de visitas oficiais sabem que este objecto apenas protege da chuva e do sol ou da eventual queda de um pequeno parafuso. Parafuso este que normalmente pertence ao visado com a  ocorrência. De resto apenas atrapalha e pouco protege.

Por outro quero alertar para que desconheço quem na foto ostenta o "famoso" capacete. Daí que a observação seja genérica, pois pretende apenas realçar  o aparecimento de uma nova figurinha no teatro do poder. Foi-se o senhor bispo, os soldados da paz e da guerra, surgindo em seu lugar o agora famoso  "Lambe-Capacetes".

 

 

A foto digitalizada pertence à jornalista Bela Coutinho, surge no Diário de Coimbra de 26 de Novembro de 2009, pág. 14.

25.Nov.09

Novembro, 25

 

Entre alas moderadas, mais ou menos moderadas e radicais, o 25 de Novembro iria recolocar o país nas 23 horas e 58 minutos do dia 23 de Abril de 1974. A hora que precisamente alguns dos militares que herdam o poder transmitido pelos operacionais do do 25 de Abril gostavam que fosse. Trinta e quatro anos depois a democracia preconizada pelo golpe do 25 de Novembro vacila, anquilosada. Da primeira constituição democrática de 1976 sobra o quê? Um regime, sem líderes à altura de um povo e de um país que, embora caminhando cabisbaixo, ainda pensa. Perante a ameaça da bolchevização do regime os homens do 25 de Novembro ergueram barricadas. Terá valido a pena? Uma sociedade e um país  atravessado por golpes e contragolpes, onde o vírus letal da corrupção causa mais estragos que o "Poder Popular" de então. Cabe perguntar onde cabem hoje os ideais, as propostas de equilíbrio social, do desenvolvimento sustentado num regime assente e sustentado na desenfreada colecta de impostos junto das classes sociais mais desprotegidas face ao Estado. Onde anda a Democracia? Com a Europa a caminho da descredibilização internacional, resta somente a semente de uma revolução da qual alguns ainda se lembram. E, sem pudor algum, perguntam para onde caminha este país. E não me venham com a liberdade, com a existência de liberdade e a não existência de presos políticos. Porque isso hoje nada vale hoje quando maior crime não é lutar por um estado mais democrático, maior crime são os que, com a conivência do Estado, roubam despudoradamente. Resta utilizar a frase em voga. Com o 25 de Novembro o país poderia ser o mesmo? Poderia, mas não é a mesma coisa.

 

"Enquanto não se virem provas reais de mudança, melhor será continuar a iludi-los. [...] Assumir a dor e o desamparo era mais importante que teme-los. Ser grande é encarar tudo com simplicidade, o agrado ou desagrado não tem importância."

Dacosta, Fernando, O Viúvo. Memórias do fim do Império, Letra oitava.

22.Nov.09

Davam grandes passeios ao Domingo - José Régio

 

Contraí um caso agudo de preguiça. Mental, física, eu sei lá mais o quê. Portanto vou esticar-me num qualquer canto da casa tentando ouvir o silêncio. Impossível. Hoje é domingo, há sempre quem sai e não consegue evitar bater com as portas, de uma forma displicente, anunciando ao mundo a sua partida ou chegada. Ou então descem ou sobem pelas escadas como se obrigassem a assistir a um interminável filme sobre animais pré-históricos. Tipo tiranossauros. Ou desse tipo. Detenho-me entre abrir um livro e não ler. Olhar para a T.V. e apetecer-me escaqueirar o objecto. Reprimo o acto. Antes que aconteça como é conveniente. Demoro-me propositadamente a tentar perceber o que os manuscritos de Nag Hammadi, caso não fossem considerados uma heresia, poderiam trazer ao pensamento ocidental, europeu. Concluo que a metafísica daquele amontoado de metáforas e parábolas é interessante. Ainda estou no princípio. Por isso alimento a preguiça, ou é a desmedida preguiça que me alimenta.

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