Esta estupefacção que me não larga
Esta perplexidade de Reggan expressa e que surge nas suas memórias é extraordinária. Contudo nestes assuntos cautela e caldos de galinha parecem ser de grande utilidade. Será a própria estupefacção verdadeira? Como não aparece ninguém a desmentir, de forma categórica, deve sê-lo. O que torna o assunto ainda mais interessante é o aparente grau de pasmo que surge no texto (será uma liberdade do autor?) memorialístico. Aparentemente para Reggan seria impensável estar a asistir a esse formidável golpe de rins ideológico feito por um auto-intitulado socialista. Deduzo que Reagan, nem ele próprio, parece querer acreditar no que os seus olhos viam: como é que um individúo que se auto-intitulava socialista conseguia ser tão ambivalente. Seria a sua ideologia apenas uma máscara? Seria que estes utilizavam a conotação ideológica para enganar os compatriotas locais? Afinal como é que eles tinham conseguido enfiar o dito socialismo na gaveta? Bem, Reggan, homem que começara a vida como actor, de segunda, em filmes do cowboys, detectava vilões a longa distância, como sabemos. Contudo vamos com calma, e por partes, o que então estava em causa era salvar (outros, que não eu, entendem que poderá ter sido vender) a Pátria. Nem que para isso se tivesse que lhe vender a Alma. A salvação da Pátria estava em primeiro lugar. Os portugueses precisavam de ser salvos. Parece-me bem. Nem refiro o catálogo de anti-comunismo que deve ter sido apresentado para agradar ao líder americano. Ele gostava de o ouvir. Como qualquer bom e verdadeiro patriota americano. A própria União Soviètica acabaria por dar razão a esse longo catálogo. Como alíás ainda hoje acontece noutras paragens. Embora a China, por exemplo, detenha metade da dívida americana, o convivio entre democratas (ou republicanos) americanos e chineses ditos comunistas corre de feição. Até ver. Convinha também que a China explicasse muito bem onde enterrou o dito. Bem se não for metade da dívida é para aí uma boa parte desta. Também tenho direito à minha mentirinha razoàvel. Ou não. Mas agora a pensar a sério... estes senhores, em Portugal, também lutaram contra um tipo que tentava salvar a Pátria e os portugueses. Na realidade foi isso que aconteceu. Mas começo a não encontrar grandes diferenças no "modus faciendi" face à conjuntura. O que me deixa muito intrigado. Muito mesmo. Com quê, perguntam. Bem, José Gil chama-lhe "chico-espertismo". Não fui eu que o disse. No entanto cito um Homem Grande, de seu nome Sidónio Muralha:
"Parar. Parar não paro.
Esquecer. Esquecer não esqueço.
Se carácter custa caro
pago o preço."
para amenizar ou tentar justificar esta irritante estupefacção que me persegue e de vos de dizer que cheguei a uma triste conclusão: a de que carácter em política, sobretudo na nacional, é uma couve-lombarda. Por isso vivo estupefacto.