Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

28.Out.09

Esta estupefacção que me não larga

"O PM Soares, de Portugal, visitou-nos. É muitíssimo impressionante. É socialista, mas procura investimento privado para a indústria de Portugal e é um anticomunista do mais furioso que se pode encontrar. É um grande apoiante do nosso país e do Ocidente. Tivemos boas e proveitosas reuniões."

 

Esta perplexidade de Reggan expressa e que surge nas suas memórias é extraordinária. Contudo nestes assuntos cautela e caldos de galinha parecem ser de grande utilidade. Será a própria estupefacção verdadeira? Como não aparece ninguém a desmentir, de forma categórica, deve sê-lo. O que torna o assunto ainda mais interessante é o aparente grau de pasmo que surge no texto (será uma liberdade do autor?) memorialístico. Aparentemente para Reggan seria impensável estar a asistir a esse formidável golpe de rins ideológico feito por um auto-intitulado socialista. Deduzo que Reagan, nem ele próprio, parece querer acreditar no que os seus olhos viam: como é que um individúo que se auto-intitulava socialista conseguia ser tão ambivalente. Seria a sua ideologia apenas uma máscara? Seria que estes utilizavam a conotação ideológica para enganar os compatriotas locais? Afinal como é que eles tinham conseguido enfiar o dito socialismo na gaveta? Bem, Reggan, homem que começara a vida como actor, de segunda, em filmes do cowboys, detectava vilões a longa distância, como sabemos. Contudo vamos com calma, e por partes, o que então estava em causa era salvar (outros, que não eu, entendem que poderá ter sido vender) a Pátria. Nem que para isso se tivesse que lhe vender a Alma. A salvação da Pátria estava em primeiro lugar. Os portugueses precisavam de ser salvos. Parece-me bem. Nem refiro o catálogo de anti-comunismo que deve ter sido apresentado para agradar ao líder americano. Ele gostava de o ouvir. Como qualquer bom e verdadeiro patriota americano. A própria União Soviètica acabaria por dar razão a esse longo catálogo. Como alíás ainda hoje acontece noutras paragens. Embora a China, por exemplo, detenha metade da dívida americana, o convivio entre democratas (ou republicanos) americanos e chineses ditos comunistas corre de feição. Até ver. Convinha também que a China explicasse muito bem onde enterrou o dito. Bem se não for metade da dívida é para aí uma boa parte desta. Também tenho direito à minha mentirinha razoàvel. Ou não. Mas agora a pensar a sério... estes senhores, em Portugal, também lutaram contra um tipo que tentava salvar a Pátria e os portugueses. Na realidade foi isso que aconteceu. Mas começo a não encontrar grandes diferenças no "modus faciendi" face à conjuntura. O que me deixa muito intrigado. Muito mesmo. Com quê, perguntam. Bem, José Gil chama-lhe "chico-espertismo". Não fui eu que o disse. No entanto cito um Homem Grande, de seu nome Sidónio Muralha:

 

"Parar. Parar não paro.

Esquecer. Esquecer não esqueço.

Se carácter custa caro

pago o preço."

 

para amenizar ou tentar justificar esta irritante estupefacção que me persegue e de vos de dizer que cheguei a uma triste conclusão: a de que carácter em política, sobretudo na nacional, é uma couve-lombarda. Por isso vivo estupefacto.

 

27.Out.09

Insisto nisto.

 

Troco 10 bilhetes para os concertos dos U2 por 1 concerto de 10 minutos deste cantor que desconhecia. Afinal de contas quem é este José Mário Branco? Alguém que diga a estes três que Coimbra também espera...

27.Out.09

das memórias figueirenses

 

A primeira plataforma logística - desculpe-se a introdução desta referência pós-moderna - para descarga do pescado construída junto ao hoje inexistente cais do Trapiche. A mudança deu-se após o fim, ou expulsão, desta actividade frente ao Mercado Engº Silva, devido a ser considerada como uma actividade perniciosa para a imagem turística da cidade. Esta parece ser também uma escolha ou, se quiserem, uma constante nas políticas turísticas locais: afastar dos olhos dos forasteiros, dos turistas, o verdadeiro pulsar do quotidiano da cidade. Um erro de estratégia que se pagou caro. As diversas componentes da identidade urbana eram então, e ainda o são hoje, cada vez mais, uma das componentes primordiais na capacidade de atracção turística. Na época não se entendeu assim. Contudo o novo local, com condições igualmente rudimentares, representaria algum avanço nas condições em que se desenvolvia a actividade de descarga de pescado junto ao Mercado. Veio a ser substituído por um novo cais aquando do prosseguimento das obras de construção do novo porto comercial durante o Estado Novo e terminado em inícios de 1974. Sabe-se que, em Abril desse mesmo ano, estaria projectada uma visita do então Presidente da República, com o intuito aparente de proceder à sua inauguração. Visita que nunca chegou a ocorrer. Este facto leva-nos a afirmar que o novo porto comercial e de pesca erigidos durante esse período, nunca terão sido oficialmente inaugurados.

 

27.Out.09

Insónia

Entro de mansinho e ninguém dá por nada. Houve um tempo em quis ser escritor de booklet's e flyers. Escritor de condensados, sem recompensa, sem apelo, nem agravo. Foi assim durante algum tempo.

26.Out.09

METÁFORA PARA O TEU ANIVERSÁRIO

CONSTRUÍMOS BOA PARTE DO QUE SOMOS, DAQUILO EM QUE ACREDITAMOS. SABENDO A PERFEIÇÃO INATINGÍVEL. SOMOS RESUMO DE GESTOS, ESTADOS DE ESPÍRITO, VONTADES, INCONSTÂNCIAS, DESACERTOS, ESCURIDÃO E LUZ. DAMOS VIDA AO SONHO. NO MUNDO QUE VAMOS CONSTRUÍNDO EXISTE NO ENTANTO UMA IMPOSSIBILIDADE: A TUA INEXISTÊNCIA... AO LONGO DO TEMPO APRENDI AQUILO QUE DEVAGAR ME FOSTE ENSINANDO: A ESSÊNCIA E A BELEZA DA VIDA ESCONDE-SE NOS PEQUENOS PORMENORES. SABEMOS, CONHECEMOS, DO LIMITE FÍSICO DA EXISTÊNCIA PESSOAL DE CADA UM, DESSA DOR INTRANSPONÍVEL, POR ISSO PROCURO DE FORMA, TALVEZ DESAJEITADA, SOLETRAR O IMENSO QUE HABITA EM NÓS COMO SE O AMANHÃ NÃO EXISTISSE.

 

 

25.Out.09

em cima do joelho

Na maioria do casos, na maioria não, em todos, escrevo aqui, seguindo aquele, possivelmente, ancestral provérbio que refere que todo o português executa grande parte das suas tarefas em cima do joelho. Não sendo característica genuinamente portuguesa,  não creio que sejamos únicos no gesto, o português é caracterizado por deixar tudo para a última da hora,  resolver situações melindrosas no último momento, no último respiro. Compreendo. Assim sendo neste país, existe uma boa maioria de portugueses que vivem no assomo permanente da corda bamba. À beira de precipício, onde quase nunca tombam ou se tombam tudo fazem para que não se saiba. Somos assim. Escrevo no blogue quase sempre em cima do joelho, usando o teclado, se é que me faço entender, na maioria dos casos a frio. Ao contrário daqueles que o fazem a quente. Há muito que deixei de ler jornais no papel. Não tenho nada contra jornais, muito mais contra a utilidade que se dá ao papel. O excesso de utilização irracional do papel irrita-me. Soa-me a burocracia. Até nos jornais o excesso de burocracia das páginas de assuntos comerciais pura e simplesmente enoja-me. Ora lendo, as notícias, nas entrelinhas observo que grande maioria delas são puramente anúncios e não notícias. Poderia assentar aqui resmas de exemplos. Mas não vou maçar ninguém com eles. Fico-me pela constatação de um facto antigo. A velha questão da congénita falta de produtividade dos que vendem a sua força de trabalho neste país é a mais falsa das questões que ali vejo reproduzida. Seja o problema assinalado pelos eurocratas "bruxelensis" como pelos que aqui fazem as suas vezes, para consumo interno. Assim como os elevados salários praticados, segundo esses relatórios, me levantam sérias e muitas dúvidas. Fico sem perceber a quem na realidade se referem. A introdução de um diferente regime de trabalho, onde se inclui um famigerado banco de horas, que tem sido, de forma inteligente muito bem utilizado pelo empresariado português, desvirtuando totalmente o consignado em lei, mantém as minhas reservas sobre a forma como o assunto é abordado. Como sabemos os pontos de vista de uns não coincide, talvez nunca venha a coincidir, com os que estão do outro lado. Refiram-se então nas notícias  ( que reputo anúncios publicitários, porque não respondem todas as questões que uma verdadeira notícia deve responder) vindas a este propósito a quem pertencem esses altos salários pagos a esmo, pelos vistos assim é, e dir-vos-ei o porquê do incessante martelar na falta de produtividade e em altos salários recebidos pelas classes trabalhadoras deste minúsculo país. Ressalve-se aqui, em cima do joelho, a necessidade urgente em se conhecer de forma mais profunda e consistente quer do ponto de vista sociológico, mental, antropológico até, do empresariado português. De alguns factos e características temos perfeita consciência: pouco inovadores, fracos atributos pessoais, a não ser aqueles que lhe concedem o poder do dinheiro ou a posição social donde emanam, para a condução de empresas, o elevado deficit de escolaridade e sua actualização, a profunda dependência de um Estado, que muitos , de forma pretensa, combatem, quando lhes interessa e que por sua vez bajulam, de mão estendida, quando óbviamente também lhes interessa. Falta à maioria craveira intelectual, e, mais importante, convicções morais e éticas, que embora em desuso, deviam ser promovidas e incentivadas. E nem sequer refiro alguns gestores ao serviço das entidades estatais ou pró estatais. Fico-me pela rama, como é de bom tom para quem escreve em cima do seu joelho. Os trabalhadores esses são o bombo desta festa. Como é linda a festa, pá. Volte-se a trabalhar de sol-a-sol, ao som dos sinos do campanário ou ao silvo das fábricas da segunda industrialização. Volte-se atrás no tempo. No fundo, bem lá fundo, o que eles pretendem é destruir direitos instituíndo apenas deveres. Projecto velho e conhecido. Daí que a denominada "Primavera marcelista" reste nalguma memória e assim tenha ficado conhecida, contudo pereceu nas mãos dos interesses corporativistas que se encarregaram de enganar alguns revolucionários a promoverem uma revolução. A seguir enterraram a Primavera, como agora decretam mudanças da hora. O mundo prossegue o seu curso.

21.Out.09

Não é sobre Saramago é sobre S. Pedro

19.Out.09

Azia do dia

 

O neo-liberalismo português actual assemelha-se muito com as práticas "negreiras" do século XIX nas denominadas colónias portuguesas de África. Muitos dos actuais gestores que integram as ECP's, (Empresas de Capitais Públicos, criadas com a finalidade de reduzir os efectivos da Administração Pública e promover uma rápida e eficaz privatização dos serviços) são, na sua maioria, imberbes. Entre estes, embora aqui não se pretenda universalizar esse comportamento, existem personagens que nunca puseram os pés num curso ou escola de gestão, doutros duvida-se, muito seriamente, das habilitações académicas que dizem possuir. Contudo aprendem rapidamente a soletrar a palavra lucro. No fundo é isso que interessa saber. Relações humanas e relações de trabalho são fomentadas através de um chicote e incentivadas pelo açoite em reuniões entre as partes que apenas servem para vincar e justificar os pontos de vista da gestão por objectivos. Objectivo que, na maioria dos casos, é o único que perseguem. Parecem meninos/as que cresceram a ver as séries infanto-juvenis da "Heidi", do "Jimba" e que evoluíram posteriormente para o "Action Man" ou para a "Barbie". Assim, de repente, aprenderam precocemente a gerir E.P.C's  como quem olha para "bonecos", em vez de pessoas. Dividem o seu pequeno mundo (o do poder de tomar decisões) entre os bons (os que lhes "aparam" o jogo, ou Yes") e os maus (os que colocam em causa, em forma de múltiplas dúvidas, as poucas capacidades e as decisões mal tomadas e direccionadas). O problema da arbitrariedade é que um dia acaba. Mal. Para ambos os lados. Perdem as empresas, porque deixa de ter trabalhadores interessados e dedicados e conhecedores. Perde o país, porque a competitividade não se devia medir apenas em termos lucrativos conseguidos com a diminuição de custos e o aumento da pressão e do caos gerado nos locais de trabalho. Mesmo que cá fora exista um exército de desempregados. Mesmo que verdadeiros gestores estejam muitos deles no desemprego, pouco interessa ter no conjunto quem pense e dirija de forma diferente. Quem queira trabalhar de forma digna, sem ser escravo. O chamado "MOBBING" (caso alguém leia isto e se interesse por estas novas realidades do mundo do trabalho aconselho a investigar o seu significado e as implicações. Está tudo ao alcance de um simples clique) aí está. Embora silenciado, na comunicação social, ele é hoje uma realidade em muitos locais de trabalho. Até no seio da própria comunicação social existe em franco progresso, como os jornalistas bem sabem. Chegou finalmente, de mansinho, às denominadas empresas de capitais públicos. Desagregados, e demitidos das suas funções reais, os sindicatos, obrigados a definirem-se ideologicamente e a optar por pertencerem a uma das duas centrais sindicais existentes, pois só deste modo alcançam o estatuto de parceiro no diálogo com as administrações, deixaram de ter papel real. Pouca, atrevo-me a dizer pouca, força detém. Coagidos e dirigidos por quem gosta de se eternizar no poder, pouco ou nada fazem. Aparecem hoje, aos olhos de muitos dos trabalhadores, transformados numa espécie de cobradores de fraque, desculpem, de quotas. era o que eu queria escrever.

Pág. 1/3