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PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

22.Ago.09

Silly season

Acordei cedo, que é como quem diz, nem olhei para o relógio à hora que acordei. Pela janela o sol já se mostrava para além daquela linha imaginária, por mim traçada, na varanda, que me ajuda a adivinhar que aquela hora ia já muito adiantada. Em relação a quê não sei. Mas a luz já havia ultrapassado, de mansinho, a linha imaginária que me serve de relógio e me ajuda a transformar as horas em algo supérfluo. Se acordei de bom humor ou mau não vos interessa e a mim muito menos. Não meço os dia pelo humor nem o do tempo que faz, nem o pessoal. As minhas medidas são largas. Nasci, ao que me disseram, assim. Não me importo. Sou pesado de ossos por isso a balança engana. Sei que comi iogurtes no decurso dos anos 60. Não, não cantam cá primaveras, nem sopro velas, nem janto fora para assinalar datas. Deixo-me ficar pelas redondezas. Dou por mim a construir barcos de papel. Uns atrás dos outros. E chapéus. Dobro as folhas e sai mais um chapéu. Ou um barco. O tempo esvoaça, mas nunca lhe descobri as asas. Ouvi  e vi que caiu uma arriba lá para o sul. Soterrou pessoas que, impávidas e serenas, deixaram pura e simplesmente de existir. Aparentemente outras desejam ocupar o seu lugar. Não compreendo a mansidão humana. Ao lado, quando olho para o lado direito a  referência geográfica mais próxima é o mar. A norte, Coimbra, cidade de todos os amores, desamores, dores e estertores. plausíveis ou não. Mãe e madrasta. A sul fica o sul. Pois claro. Do mar a brisa que sopra, não trás cheiro de peixe fresco e maresia. Estou a bordar palavras, problema que arrasta juízos morais próprios e éticas particulares (um absurdo a que chamam modernidade). Cada um de nós incha de acordo com o tamanho das suas. Abomino cada vez mais éticas, juízos e morais próprias. Estou, por assim dizer, a escrever que a única certeza que tenho e em que acredito é de que tenho a certeza que as minhas certezas estão totalmente incertas.