Apoteose ao futebol
Gervásio morreu. Talvez. Embora eu sonhe e no meu sonho (de menino) consiga revê-lo a fintar de forma mirabolante, com os olhos postos nas balizas da vida, desmarcando-se, afoito, naquela direcção para onde apenas os "ases" do futebol caminham. A eternidade, enquanto deles se lembrarem.
Não é costume por aqui falar do desporto-rei. Epíteto que, se bem entendo, se deveu à forma como o futebol se democratizou, tendo começado por ser praticado pelas elites inglesas radicadas no país em finais do século XIX e que depressa se enraizou no imaginário das classes populares, como prática saudável ao ar livre, como se escrevia na época. Daí até à luta corpo-a-corpo, à "clubite", ao fanatismo foi apenas mais um instante. De que outros adjectivos pode sobreviver o futebol actual, costumo perguntar-me. O futebol era desporto ao alcance de todos e, deste modo, paulatinamente, virou rei, elevado á categoria de sua majestade pelas classes populares. De que outro modo se poderia erguer rei senão pela vontade do povo. Tudo isto a propósito das referências a um jogador de futebol, daquele futebol de ontem que já não se pratica hoje. Hoje o futebol não é rei de nada, onde apenas interessa como desporto praticado por elites galácticas, sonho de meninos que nada mais aprendem, salvo as honrosas excepções. Massificado pela natureza do gosto popular, explorado pelo capitalismo de casino, praticado de forma acéfala por milhões de adeptos de bancada e treinadores das mesmas. Por isso e porque os tempos são outros, depois de muito penar , descobri duas homenagens que referem esse outro futebol, essa outra postura, esse outro tempo, que já de nós muito distante convém recordar e assinalar. Podem ler-se no Água Lisa e no Santa Nostalgia, donde recortei a fina figura de uma dos grandes da "minha" Académica.