"[...] num país, onde a inteligência é um capital inútil e onde o único capital deveras produtivo é a falta de vergonha e a falta de escrúpulos - o diagnóstico impõe-se per si. O desalento e a descrença alastra. No ar respira-se o cepticismo. E, à medida que o mal-estar colectivo se esvai resolvendo quotidianamente em tragédias individuais, o sentido da vida, em Portugal, parece ser cada vez mais fúnebre e mais indicativo de que vamos arrastados, violentamente arrastados por um mau destino, para a irreparável falência e de que nos afundamos definitivamente.
[...] Em Portugal, só uma parte mínima do esforço empregado redunda em trabalho utilizado. O resto é integralmente esforço desperdiçado. Como querem, pois, que haja amor ao trabalho se o produto do trabalho representa uma insignificância que não valoriza senão uma parte mínima do esforço feito? [...] Não compensar o trabalho é aniquilar o estimulo de trabalhar. E até certo ponto, senão é justo, é pelo menos explicável que homens, que em outro meio seriam prodigiosas fontes de riqueza e de progresso, respondam invariavelmente aos que os incitam a fazer alguma coisa; «Não vale a pena»
O nosso pessimismo quer dizer apenas isto: que em Portugal existe um povo, em que há, devoradas por uma polilha parasitária e dirigente, uma maioria que sofre porque a não educam e uma minoria que sofre porque a maioria não é educada. [...] Não, em Portugal não é a degenerescência o que lavra. Há aí incalculáveis energias armazenadas; há aí muita vida, [...] à espera de aplicação útil. Aproveitem-se, canalizem-se. Há ainda alma para refazer todo um Portugal novo.
Excertos d'0 Pessimismo Nacional de Manuel Laranjeira