Estou para aqui meio engripado/meio constipado. Que me lembre não estive em Cancun, e nunca iria a Cancun, por dois motivos: primeiro porque Cancun é demasiado artificial, segundo porque sou um viajante romântico e em Cancun não existe romantismo. Mas o que me acelerou a escrita hoje foram duas frases do futuro deputado europeu do partido no governo que rezam assim: "A manhã começa no porto de Aveiro. Porta de entrada marítima para a Europa" e a outra, de hoje, em letra garrafal permitindo prever uma inusitada euforia : "Porto de Aveiro é um exemplo do Portugal moderno, que a União Europeia permitiu" Trabalho há vinte e tal anos num porto, conheço grande parte da sua história, o que futuro eurodeputado provavelmente não conhece e devia para fazer afirmações deste calibre. Portugal é um só pais, os seus portos merecem, mas todos, o olhar atento dos governos, tem sido contudo a política titubeante do partido no governo nas infra-estruturas portuárias que, abandonando grande parte das estratégias delineadas no livro branco dos portos do Eng. Cravinho, lançou sobre as administrações e quejandos o estigma da nomeação partidária. O mérito fica para depois. Apenas canais de influência junto de secretarias de estado e ministérios Uma administração portuária não é obrigatoriamente sinónimo de saber. Pode ser muita outra coisa. E por fim também o porto de Aveiro está a ser uma das principais vitimas da estagnação de mercados. Não tem sido fácil a vida nos portos. Agora só faltava o frete de tratar Aveiro como porta marítima de entrada para a Europa, que dirão Lisboa, Leixões Setúbal, Sines? Para não falar em Figueira da Foz e Viana do Castelo ou Portimão? Espero que não se tente secar as outras portas de entrada. Espero. Se Aveiro é assim um exemplo eufórico, estude-se bem o exemplo e perceba-se o valor simbólico das frases do concorrente a eurodeputado. Está lá o que um partido de governo não devia ser. E nunca a modernidade foi sinónimo de evolução. Atente-se. Bem sei que o porto onde trabalho está agora nas estruturas da tal porta da Europa, mas Aveiro, é uma realidade e Figueira da Foz, outra. Outrora dois portos concorrentes, fórmula que não se compreendia, num país com uns meros 561 quilómetros de comprimento por 281 de largura e que fazem hoje parte da mesma realidade. Mas existem idiossincrasias próprias. Por outro lado sabemos que boa parte da legislação portuária é já feita nos corredores em Bruxelas. Talvez seja por isso que cada vez vejo mais tripulantes asiáticos em navios que de europeus apenas tem o nome, tudo o resto surge registado em paraísos fiscais e mão-de-obra sem qualificação, direitos e explorada. Sei que é assim que o capitalismo deseja. A Europa de Bruxelas. e a tal por onde se entra para a Europa, para não perder terreno vai pelo mesmo caminho. E andou este senhor por onde andou. Ena tanto caminho para aqui chegar.
NOTA: Não há links para as respectivas frases, não faço publicidade, adianto contudo que quem visitar o Twitter-fantasma do Professor Doutor Vital Moreira, pode ler ali estas frases.
![]()
Lugres bacalhoeiros, entre finais do século XIX e inícios do séc. XX, na Figueira da Foz.