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PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

05.Fev.09

O PAÍS MODERNINHO

 

Foto:se quiserem comprar, façam favor

Nunca fui de andar com o vernáculo na ponta da língua. Responder com um palavrão por dá cá aquela palha não é fórmula que use muito. Não tenho por prática dizer palavrões e prontos. Utilizo o vernáculo de outra forma. No entanto, nos últimos tempos, quem me ouve todos os dias, aconselhou-me a moderar a minha utilização desenfrada dos vernáculos. Dei por mim a ser escoltado por palavrões, a torto e a direito. O palavrão encobre a falta de vocábulos, se quiserem. Em sociedade ouvi frases de cinco palavras onde contei quatro palavrões. É apenas um exemplo. Nada contra. Por vezes o palavrão é muito tripeiro, sai e já está. Ninguém leva a mal. Mas nos últimos tempos e por caso dos últimos tempos cá da paróquia este palavrão sou-me bem aos ouvidos: Putaqueospariu. Ensinaram-me entretanto a talhar o vernáculo e referir igualmente o corno que lhe havia talhado as orelhas. Explicaram-me que a frase podia ser conotada com marialvismo. Achei bem. Deste modo passei a dobrar a língua e a referir ambos os componentes.

03.Fev.09

O problema que está a dar

 

O abandonado Choupal está no centro do problema. Se olhar-mos bem a zona por onde passa o viaduto proposto para o IC2 encontra-se degradada há tanto tempo, mas há tanto tempo, que já não me recordo de alguém com responsabilidades ter falado sobre o assunto. Salvar o Choupal era uma boa intenção. Sem dúvida. O problema é que aquilo a que se convencionou chamar Choupal, já não existe. Sobram as árvores. As únicas que morrem de pé. E o problema começou no dia fatídico em que alguém se lembrou que a zona dava uma excelente localização para uma estação de tratamento de águas residuais. Foi construída por perto. Depois disso só me lembro de terem vandalizado a grande nora e voltado a recupera-la. O que, diga-se de passagem, é assunto que merece ser referido. Se quiserem falar do problema falem do abandono a que foi votada aquela zona de lazer. Depois olhemos para o tal problema e obtenha-mos através dele novas valências para o que sobrar.

02.Fev.09

Do direito à preguiça

A questão não é de hoje. A dificuldade em criar a partir dos nossos próprios neurónios, embora um prazer intelectual indescritível, arrasta muitos dos candidatos para este tipo de situações.  Um mundo de dúvidas, de muito e muito trabalho, que implica perseverança, falhanços, muitos, e algumas vitórias. Caminhos que se iniciaram e que tiveram de ser abandonados. Reescrever vezes sem conta. Olhando as palavras como um enigma a decifrar. Perceber se o que passamos para o papel é compreendido pelos outros. Se tem consistência, O árduo trabalho de pesquisa, horas infinitas em arquivos e bibliotecas, onde por vezes o acesso é  dificultado. A necessidade de consulta implica sem número de deslocações e de tempo. Dedicação, que na maioria dos casos, é solitária e pouco apoiada pelas instituições. Observar o trabalho crescer, ganhar corpo é  como acompanhar um ser humano nos primeiros passos na árdua caminhada pela vida. Se não é, a mim pareceu-me. Estou apenas no fim de quatro anos, a trabalhar na minha profissão e ao mesmo tempo a construir a minha tese e digo-vos que a perâ pouco teve de doce. Mas vai valer a pena? Apenas em termos pessoais. Essa é angústia que se levanta para muitos. Sobretudo na área de Letras. Para quê? Por isso até compreendo a tentação, embora não a siga. É tudo uma questão de integridade intelectual. Mas afinal de contas o que é isso de integridade intelectual? Exactamente, é um assunto, diria, relativo. Para uns nada vale, para outros é tudo.

01.Fev.09

Desalentos

Foto

Não sou pessimista militante, nem optimista desenfreado. Mas enquanto durante a noite o vento vergastava as arvores da minha rua, eu lia, o que se segue abaixo entre aspas, e não podia deixar de pensar que era de um vendaval e não de remédios já demasiado convencionais e estafados que necessitamos para estes 92 0000 km2, que obrigasse a renovar instituições e políticos do viver habitual.

"O Estado tem de assegurar o desempenho que lhe incumbe e que não depende das lutas partidárias: a justiça, o crédito, a produção, a circulação de bens, a salvaguarda de recursos não podem estar à mercê dos alinhos e desalinhos de conveniência. Tem de estar fora disso para que sejam possíveis sem dano. A administração  tem de ser entregue a um corpo com experiência, saber e idoneidade profissional." (1)

Sem estas premissas não existe ninguém que consiga manter  o país à tona e a navegar. A alternância democrática e os partidos do aro do poder não deram frutos após 25A. Esta é uma verdade de La Palisse. É esta verdade que a minha geração terá de derrubar, quer se queira, quer não se queira. Sem isso, nada feito. Voltaremos ao PSD e ao vendem-se os anéis, ficamos com os dedos. Mas convenhamos que é já muito pequena a vontade de querer mexer um único dedo que seja.

(1) Adriano Moreira, A Espuma do Tempo, Editora Almedina, 2008.

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