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PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

14.Set.08

Lancha-Piloteira "Coutinho Garrido"

 

Foto pertence a João Viana. Autor que em diversas ocasiões temos vindo a referenciar em virtude da sua actividade como fotógrafo de embarcações marítimas, trabalho que, com esta fotografia, nos cativou para relembrar a necessidade de preservação do património com valor histórico. Fortemente marcada pela raridade, a foto mostra a lancha-piloteira "Coutinho Garrido" à saída da barra da Figueira da Foz. O seu nome de baptismo está ligado ao oficial da Marinha Portuguesa, José da Motta Coutinho Garrido, Comandante do Porto da Figueira da Foz, entre 1936 e 1941. Em conjunto com o seu desaparecimento, sobre o qual possuimos poucos dados, outras embarcações, que tinham por missão acompanhar as manobras de entrada e saída de embarcações na barra da Figueira, tem sido recentemente destruídas. Recorda-mos as lanchas "Almeida e Brito" e "Ruache", cujo estado de abandono, a que foram sucessivamente votadas, teve como solução última o seu desmantelamento para sucata. Condição que resultou da incúria e da pouca sensibilidade existente para a necessidade (diria urgente) de preservar algum deste património, cujo desaparecimento deixa mais pobre as memórias históricas de uma cidade marítima. Dai que façamos igualmente eco para o alerta lançado em Leixões para que se preserve algum deste património ligado  ás actividades marítimas naquele Porto e lançado em Março do corrente ano. Ora o que parece aparentemente difícil:

não é. Este exemplo de conservação de embarcações marítimas podia ser ser visto no Funchal, em 2006.

13.Set.08

Este blogue publica notícias...frescas, sobre diversos acontecimentos do dia.

 

 

 

 

Os jornais noticiaram há dias:

"Após cavarem 100 metros, cientistas ingleses encontraram vestígios de fio de cobre com 2 000 anos e concluíram que seus antepassados já possuíam  rede de telefónica.
Na semana seguinte os franceses - para não ficarem atrás dos ingleses -  resolveram cavar 200 metros e a manchete foi a seguinte:
"Após cavarem 100 metros, cientistas franceses encontraram vestígios de fibra óptica com 3 000 anos e concluíram que os seus antepassados já possuíam uma rede telefónica de alta qualidade."
Os portugueses - que não são tolos - uma semana depois resolveram cavar 1000 metros, e os jornais de Lisboa noticiavam :
"Após cavar 1.000 metros e nada encontrar, cientistas portugueses concluíram que os seus antepassados já utilizavam telemóveis à 5 000 anos atrás"

 

Vem a propósito do banzéu sobre "criacionismo" e "evolucionismo",  provocada pelo facto de me parecer que provavelmente terei nascido do encontro fortuito entre um espermatozóide e um óvulo. Parece-me. Se não, tanto faz. Se alguém disser o contrário, pura e simplesmente, desmente-se. No fundo, as minhas conclusões, são em tudo semelhantes às dos cientistas portugueses sobre os seus antepassados. Agora que alguns que me parecem mais macacos que a dita espécie, parecem. Vá se lá saber porquê.

 

 

12.Set.08

Abelha na chuva

 

 

Sou pouco poeta num país de poetas, como antes se dizia. Antes os verdadeiros, que tentar escrever para além desta alma que é a minha, que não se solta em palavras sentidas. Não é que não as possua  (às palavras soltas e sentidas), mas não sou poeta. Sou amador, teu e de poetas com Poesia, dentro de si. Que me comove nos vários sentidos da comoção que vai do amor à ira. Soubesse eu escrever palavras, com sentido, escrever-te-ia o que Eufrázio Filipe nos escreve assim:

 

 Olho-te como se fosse a primeira vez
Na verdade a água
corpo líquido de mulher
tem segredos escondidos no fundo das pedras
alimentos de fogo
talvez uma praia onde se fundem
areias e lábios
um piano de luzes
que determina o tempo das estações

Ainda bem que tens ilhas selvagens
sinais apócrificos que se desnudam
em gestos simples
no pestanejar de uma vírgula

Na verdade a água sabe rir e chorar
no espelho das próprias lágrimas
no rumor das maresias
e eu descobri uma vez mais
que tens póros por onde respiras
silêncios escarpas por onde escorrem salivas
que te ergues e desmoronas
abrigo e mensageira
te desprendes do chão
ou hibernas nos corais

Que bom ainda hoje
partilhar contigo este despertar
aprender vida fora a descobrir-te
como se fosse a primeira vez
deixar por um instante
a outra água
para os peixes se moverem

 

 

 

12.Set.08

A nova cozinha

Estava a ficar um pouco farto dos ditirambos de certa classes de bloggers que gostam de definir o que é um blogue ou o seu conceito. A liberdade das diferenças tipológicas é algo que nunca conseguirão entender, muito menos discutir ou pensar. De repente, solta-se a corneta, dou com esse triste espectáculo destas ditas esquerdas que resolvem fazer (outra vez) juras de aliança (eternas? ver-se-á) quando são apenas e só mais do mesmo. Assiste-se uma vez mais a essa dança eterna (retorno, será mais apropriado) do fazer de conta que se sai ou do fazer de conta que se saiu e agora se volta a entrar. O futuro, que já pouco com eles conta, dado o penoso caminho percorrido pelos diversos intervenientes, perdidos em volte-faces e flic-flac's em qualquer direcção, que até a mim, pessoa pouco calejada nestes assuntos, causam um certo enjoo. Tentando, a seu modo, condicionar uma perda que se revela imparável. Embora aparentemente adiada. Arrepia-me a falta de senso da nouvelle cuisine política, cujas ervas aromáticas pretendem como que disfarçar o odor a comida requentada. Dai que com humildade ofereça aos passantes um bolo de Ançã. Popular, de singelos ingredientes e simples confecção. No mínimo, comido com gosto, não costuma provocar indigestões. Dizia Brassens que "le temps ne fait rien à l'affaire / quand on est con, on est con". De fonte segura.

11.Set.08

AVISO

 

As prosas vadias

declinam qualquer responsabilidade 

no dia 11 de Setembro sobre qualquer efeméride, conclusão ou mudança verificadas ou a verificar.

A única efeméride aqui é dedicada apenas às vitimas.

11.Set.08

Carne para canhão

 

Eis o que somos ou no que nos transformamos. Foi no ano de 1846, que o desfecho da revolta popular da Maria da Fonte (figura mitificada, controversa entre os eruditos, cuja proveniência é ainda hoje desconhecida, embora seja dado certo que foi com essa designação que ficou conhecida a sublevação popular iniciada em Maio desse ano no Minho) seria oportunamente apropriada e controlada por franjas da burguesia liberal (designados por Setembristas) opositores de qualquer projecto de índole ditatorial, então muito em voga. Na época, as massas populares (actualmente designadas por pobres, funcionários públicos, trabalhadores pouco qualificados, etc.) deram o corpo ao manifesto, que é como quem diz, serviram de carne para canhão. Desta forma, e mais uma vez se gorou qualquer projecto de índole democrática em Portugal. Os Setembristas, há falta de melhor argumento, foram escolhidos como destaque junto dos mais distraídos para lembrar que nos encontramos no mês de Setembro. Convém, igualmente, recordar que se passaram entretanto 162 anos sobre os factos aqui evocados de forma breve. Não apareça por aí alguém a pensar que a Maria da Fonte é um acontecimento contemporâneo. Convém relembrar que não. É que a notória falta de conhecimento e o entorpecimento em que vegetamos, pode dar azo a que se pense que isto pode ser mais uma queer-party ou algo semelhante a realizar nos próximos dias. Não é. Em jeito de conclusão poder-se-á adiantar que a nossa burguesia liberal ontem, como hoje, não resolve absolutamente nada. Mas se fosse só isso. É que ainda serve para atrapalhar. Salvaram-se as Memórias do Padre Casimiro, o que valha a verdade já não foi mau. Embora o Camilo (sim, o Castelo Branco. Não, não é esse) tenha tentado desacredita-las. Mais uma forma de ganhar uns cobres.

07.Set.08

Aga quê?

No entretanto enquanto milhares de compatriotas  nutrem o "circus" do sistema, uns ao norte e ainda outros pelos arredores da capital, ou esses outros em um qualquer remanso do bucólico país que é o meu. Uns e outros obrigam a vegetar nesse imenso deserto de ideias que ao longo dos últimos trinta anos plantaram nos meandros da vida política e quotidiana deste país, que é o nosso. A reflexão que me proponho resulta de recentes leituras de Giorgio Agamben. Fruto da necessidade que penso existir em redesenhar o pensamento político actual propõe-se a quem desconhece porventura a riqueza do pensamento do filósofo italiano, afastando o imenso ruído de máquinas voadoras, bifanas interditas e jotas, pensador pouco militante, embora inscrito na corrente critica do marxismo, seguidor das pisadas de Walter Benjamin, incorporando conteúdos filosóficos que se foram desenvolvendo ao longo do último século em torno das fórmulas de legitimação dos poderes singulares, tanto na forma (seguindo Michel Foucault), assim como no conteúdo, caso dos totalitarismos (seguindo Hannah Arendt). Mas, a questão, fulcral e que nos interessa realçar e trazida (embora não exclusivamente) para o debate ideológico em torno da democracia por Agamben é, a critica que produz à noção de soberania enraizada nas democracias. Da soberania do Estado e das fórmulas utilizadas na imposição da soberania estatal. Não esqueçamos a frase lapidar de Walter Benjamin, quando enuncia que " o estado de excepção tornou-se regra", que sendo forma de actuação do Estado sobre os cidadãos e técnica frequentemente (demasiadas vezes) utilizada subjuga o jogo democrático entre cidadãos e o poder. Agamben, desmistifica essa aparente satisfação que decorre da miragem propiciada pelo estabelecimento de princípios de justiça e modos de actuação que nos autoriza a pensar que o Estado age de forma justa. Este é apenas esse pano de fundo, mítico, da democracia e, repare-se, o quão dela nos encontramos desviados. Poderemos começar a sorrir quando deparamos com a atribuição de democrático a um Estado, porque realiza eleições. Princípio que começa a ser colocado em causa, dado que se intui que a mera realização de eleições não é bastante para que este seja democrático, embora esta ideia seja demasiado comum. O princípio da democracia não se estabelece nem pela frequência ou pela existência do acto eleitoral em si, este é apenas um dos muitos complementos da democracia. Os políticos sabem, e muitos reconhecem-no, quando fora do poder, que o exercício do poder corrompe. Ao corromper, corrói a democracia. Mas não é o pressuposto do exercício do poder que corrompe, é a natureza do ser que exerce o poder que se corrompe, ou deixa corromper, porventura pelo desconhecimento (ou esquecimento) de princípios básicos (éticos/morais) que ajudam a combater essa inércia que banaliza a ideia de que o seu exercício é por natureza  algo que corrompe. O regime de excepção em democracia implica reequacionar o poder exercido pelos políticos/partidos e o carácter (quase) absolutista que emerge desse exercício nas sociedades democráticas modernas.

 

Foto sacada aqui.