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PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

12.Set.08

Abelha na chuva

 

 

Sou pouco poeta num país de poetas, como antes se dizia. Antes os verdadeiros, que tentar escrever para além desta alma que é a minha, que não se solta em palavras sentidas. Não é que não as possua  (às palavras soltas e sentidas), mas não sou poeta. Sou amador, teu e de poetas com Poesia, dentro de si. Que me comove nos vários sentidos da comoção que vai do amor à ira. Soubesse eu escrever palavras, com sentido, escrever-te-ia o que Eufrázio Filipe nos escreve assim:

 

 Olho-te como se fosse a primeira vez
Na verdade a água
corpo líquido de mulher
tem segredos escondidos no fundo das pedras
alimentos de fogo
talvez uma praia onde se fundem
areias e lábios
um piano de luzes
que determina o tempo das estações

Ainda bem que tens ilhas selvagens
sinais apócrificos que se desnudam
em gestos simples
no pestanejar de uma vírgula

Na verdade a água sabe rir e chorar
no espelho das próprias lágrimas
no rumor das maresias
e eu descobri uma vez mais
que tens póros por onde respiras
silêncios escarpas por onde escorrem salivas
que te ergues e desmoronas
abrigo e mensageira
te desprendes do chão
ou hibernas nos corais

Que bom ainda hoje
partilhar contigo este despertar
aprender vida fora a descobrir-te
como se fosse a primeira vez
deixar por um instante
a outra água
para os peixes se moverem

 

 

 

12.Set.08

A nova cozinha

Estava a ficar um pouco farto dos ditirambos de certa classes de bloggers que gostam de definir o que é um blogue ou o seu conceito. A liberdade das diferenças tipológicas é algo que nunca conseguirão entender, muito menos discutir ou pensar. De repente, solta-se a corneta, dou com esse triste espectáculo destas ditas esquerdas que resolvem fazer (outra vez) juras de aliança (eternas? ver-se-á) quando são apenas e só mais do mesmo. Assiste-se uma vez mais a essa dança eterna (retorno, será mais apropriado) do fazer de conta que se sai ou do fazer de conta que se saiu e agora se volta a entrar. O futuro, que já pouco com eles conta, dado o penoso caminho percorrido pelos diversos intervenientes, perdidos em volte-faces e flic-flac's em qualquer direcção, que até a mim, pessoa pouco calejada nestes assuntos, causam um certo enjoo. Tentando, a seu modo, condicionar uma perda que se revela imparável. Embora aparentemente adiada. Arrepia-me a falta de senso da nouvelle cuisine política, cujas ervas aromáticas pretendem como que disfarçar o odor a comida requentada. Dai que com humildade ofereça aos passantes um bolo de Ançã. Popular, de singelos ingredientes e simples confecção. No mínimo, comido com gosto, não costuma provocar indigestões. Dizia Brassens que "le temps ne fait rien à l'affaire / quand on est con, on est con". De fonte segura.