Chamada de atenção merece este título encontrado em A Terceira Noite. Na realidade foram os espanhóis da Meseta Central a primeira grande massa de estrangeiros a descobrir a costa litoral portuguesa. Deles surgem registos na história do turismo figueirense logo em finais do século XIX , quando, pela via férrea, começam chegar e a marcar indelevelmente o Verão figueirense. O registo colocado por Rui Bebiano, no seu blogue, soa a espécie de certidão de óbito dessa outrora numerosa e marca identificadora do mês de Agosto no litoral figueirense e no Bairro Novo. Talvez últimos descendentes da fúria espanhola que se apoderava do Picadeiro e zonas adjacentes até inícios da Guerra de Espanha, em 1932 e agora fortemente critica do estado actual do turismo figueirense. Talvez impulsionados pelas memórias familiares, últimos representantes dessa imensa massa de turistas espanhóis que desde os alvores do século XX tornaram a Figueira da Foz numa das zonas com maior afluência de estrangeiros e lhe forneciam uma das suas características peculiares. Fica assim ao correr da "silly season" o lastimável estado a que chegou uma das mais antigas zona de veraneio nacional. Nos comentários ao "post" encontrei igualmente uma reflexão que merece algumas palavras, estas sobre as condições do actual "turismo de massas" espanhol, com a referência a Torremolinos. São situações que convém analisar do ponto de vista histórico e, neste caso, estas são estruturalmente diferentes. Passo a tentar explicar o ponto de vista: Figueira da Foz e Torremolinos resultam de processos que, embora se aproximem, porque resultam desse processo capilar de disseminação das práticas elitistas de vilegiatura, separa-as o tempo. Existência que resulta, a um nível de análise mais profundo, de diversas diferenças de facto, residindo a principal, no processo de criação de um local de vilegiatura, que no caso figueirense se reporta a meados do século XIX, o que não sucede com Torremolinos. O problema está na perca das marcas identitárias, no caso figueirense, desse passado e na sua "torremolinização" actual, facto que a paulatina transformação já não em local com fortes tradições no veraneio nacional, mas em mais um local para a sua prática. Apenas e só mais um. A destruição dessa memória, a que estes espanhóis de certo modo apelam, é um dos factos mais relevantes para o desaparecimento da Figueira da Foz enquanto local emblemático da vilegiatura portuguesa. Ao escolher embarcar na mercantilização do ócio assistiu-se, na Figueira da Foz, embora a pecha não seja exclusivo seu, ao longo das últimas décadas do século XX, à perca desse "ar do tempo", cuja claridade lhe fornecia uma das suas diferenças entre as demais.
Foto : denominado Galo de três patas da mais célebre barrista portuguesa: Rosa Ramalho.