Boneco pagão
Embora seja já um assunto da memória a estátua do cognominado "mata-frades" na Portagem coimbrã ontem deixou-me intrigado com um pequeno pormenor que, embora possa parecer, não é despiciendo. Existem rancores, que se não esquecem, por muita água que sob ponte (de Santa Clara) tenha passado. Nem que estes pormenores sejam depois recordados por pequenas, pequeníssimas, minudências, talvez inocentes (o que duvido) como aquela que os meus olhos registaram ontem, à noite, de chegada da "Beira-Serra", ao aportar no Largo da Portagem. Está a estátua, ali colocada em 1911, tendo por vistas as traseiras de um boneco que pretende representar a referida rainha, alcandorada a padroeira do burgo, de costas para o centro do referido largo, enxergando Santa Clara e a maravilha do "seu" restaurado mosteiro. Sabe-se que a estátua a Joaquim António de Aguiar desagradou aos muitos conservadores católicos que pululavam em Coimbra, na daquele tempo e na de hoje. Daí resulta que a colocação do referido boneco da Rainha Isabel de Aragão na principal praça da cidade, porque antiga porta de entrada, mais não seja que a expressão de uma vontade que se manifestou ao longo das primeiras décadas do século passado. Acto que pelos vistos, de forma ingénua e sub-reptícia (é impossível descrever o efeito de arames e luzes que enformam a pretensa evocação), pretende insinuar. Por muitas peripécias passou a estátua de Joaquim António de Aguiar no Largo da Portagem. Uma delas foi precisamente essa pretensão de ser substituída por uma que simbolizasse a denominada Rainha Santa. Tal não aconteceu. Venceu, então, a Comissão promotora da colocação de uma estátua ao ilustre cidadão da Coimbra secular e fradesca, futrica e doutoral. Ontem lembrei-me deste pormenor ao olhar o "nosso" Largo da Portagem. E sorri, de forma matreira. Tal como o terá feito provavelmente quem ali mandou colocar a indizível, pretensamente inocente, imagem de uma personagem que, mesmo assim, mereceria mais respeito. Prefiro a que se encontra em Estremoz se, por acaso, quereis saber.
Após escrito:
Cara Abelha, porque reconheço força na tua fé, como coimbrinha, de alma e coração, e de muitos dos cidadãos desta cidade e não só, mas este é, apenas aparentemente, um mero pormenor, que não posso calar. Em nome da nossa liberdade.
Continuação:
Ultrapassando a ficção, a realidade, transforma-se em motivo de chacota. Cheguei hoje aqui através do post da Joana. Embora todos por cá conheçam o inenarrável Dr. Mário. Uma vez mais a senilidade poética coimbrã ataca, mascarada de modernidade. A t'shirt da Rainha, essa então assenta muitissimo bem às "tias de bidé" que pululam em Coimbra. Oh Doutor, vai uma camiseta do blog do Mário dixit para ir na procissão?