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PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

30.Jun.08

Boneco pagão

Embora seja já um assunto da memória a estátua do cognominado "mata-frades" na Portagem coimbrã ontem deixou-me intrigado com um pequeno pormenor que, embora possa parecer, não é despiciendo. Existem rancores, que se não esquecem, por muita água que sob ponte (de Santa Clara)  tenha passado. Nem que estes pormenores sejam depois recordados por pequenas, pequeníssimas, minudências, talvez inocentes (o que duvido) como aquela que os meus olhos registaram ontem, à noite, de chegada da "Beira-Serra", ao aportar no Largo da Portagem. Está a estátua, ali colocada em 1911, tendo por vistas as traseiras de um boneco que pretende representar a referida rainha,  alcandorada a padroeira do burgo, de costas para o centro do referido largo, enxergando Santa Clara e a maravilha do "seu" restaurado mosteiro. Sabe-se que a estátua a Joaquim António de Aguiar desagradou aos muitos conservadores católicos que pululavam em Coimbra, na daquele tempo e na de hoje. Daí resulta que a colocação do referido boneco da Rainha Isabel de Aragão na principal praça da cidade, porque antiga porta de entrada, mais não seja que a expressão de uma vontade que se manifestou ao longo das primeiras décadas do século passado. Acto que pelos vistos, de forma ingénua e sub-reptícia (é impossível descrever o efeito de arames e luzes que enformam a pretensa evocação), pretende insinuar. Por muitas peripécias passou a estátua de Joaquim António de Aguiar no Largo da Portagem. Uma delas foi precisamente essa pretensão de ser substituída por uma que simbolizasse a denominada Rainha Santa. Tal não aconteceu. Venceu, então, a Comissão promotora da colocação de uma estátua ao ilustre cidadão da Coimbra secular e fradesca, futrica e doutoral. Ontem lembrei-me deste pormenor ao olhar o "nosso" Largo da Portagem. E sorri, de forma matreira. Tal como o terá feito provavelmente quem ali mandou colocar a indizível, pretensamente inocente, imagem de uma personagem que, mesmo assim, mereceria mais respeito. Prefiro a que se encontra em Estremoz se, por acaso, quereis saber.

 

Após escrito:

Cara Abelha, porque reconheço força na tua fé, como coimbrinha, de alma e coração, e de muitos dos cidadãos desta cidade e não só, mas este é, apenas aparentemente, um mero pormenor, que não posso calar. Em nome da nossa liberdade.

 

Continuação:

Ultrapassando a ficção, a realidade, transforma-se em motivo de chacota. Cheguei hoje aqui através do post da Joana. Embora todos por cá conheçam o inenarrável Dr. Mário. Uma vez mais a senilidade poética coimbrã ataca, mascarada de modernidade. A t'shirt da Rainha, essa então assenta muitissimo bem às "tias de bidé" que pululam em Coimbra. Oh Doutor, vai uma camiseta do blog do Mário dixit para ir na procissão?

30.Jun.08

Dividendos por pagar

Fonte: Revista Única, Expresso nº 1687 de 26 de Fevereiro de 2005, p. 56.

 

Segundo o semanário esta teria sido a noite da Esquerda. O semanário pensa que somos parvos. Provavelmente pensa e pensa bem. Uma esquerda bem comportadinha dentro dos cânones exigidos pela sua democracia, embora já nem os patrões lhe tenham respeito. Malandros. Sendo assim coloco-me também de acordo. Embora não seja muito de alinhar em consonâncias. É que não sou amigo político de Mugabe, nem escondido. Que fique dito. Mas, vamos ao que interessa, pergunto, e estes, também?  Embarcaram na folia liberal dos rosas, sem saber para onde iam. Se avisados, o que fariam? Nada. Absolutamente nada. Fariam o mesmo. É como preencher o totobola ou o euromilhões. Nas seguintes farão o mesmo. Preenchem o boletim do concurso. Não, não, é a mesma coisa o boletim de voto mas, muitos, pensam que sim. Aliás, passam a vida a abanar a cabeça a dizer que sim, que sim,  a tudo. Até ao Bloco Central. Desde que lhes matem os papões eles embarcam em tudo.

29.Jun.08

Futebolês

Na Europa (versão futebol) assistir-se-à hoje a uma vitória à "Mugabe". Porquê? Bem, poderíamos aqui explanar diversas teorias (de treinador de bancada, claro está) para este facto. Mas as péssimas arbitragens a que se assistiu retiram margem de manobra para escrever seja o que for contra o poder da UEFA, no seio da União. Basta perceber o conservadorismo da organização e espero ter dito tudo. Ou quase tudo. As quatro linhas são uma coisa, fora destas, outra.  Assim no futebol, assim na política. Bom proveito.

 

Santa Nostalgia

 

 

Ainda bem que não. Estás vingado Luis Miguel Arconada Etxarri !

 

notasdefutbol

 

27.Jun.08

Ide com Deus, irmãos metaleiros

Ouço a voz e a incessante, senão transparente, capacidade que ela possui em transmitir emoções, acompanhada pela descoberta, por entre inúmeros ruídos quotidianos, destes apontamentos falados, quase pormenores, que rapidamente se transformam em hino ao prazer de escutar e de enxergar outros mundos para além daquele, ou daqueles, a que nos habituámos. Poderia segredar que este, outrora, "Búzio Ardente" é companheiro inseparável do que penso que deva ser rádio. Uma Rádio onde caibam vozes e sensibilidade como a de Fernando Alves.  Algo próximo de um, como alguém um dia  escreveu, "entendimento poético do quotidiano noticioso". No entanto irmãos e irmãs, pois para além de me ter apetecido desvendar-vos este algo, estritamente pessoal, que não tem para vós ponta de interesse, permitam-me no entanto que vos encaminhe (e à vossa infinita paciência) para a descoberta de uma das mais recentes pérolas que diariamente o mundo dos "Sinais"  transporta até nós, proveniente de um mundo normalmente repleto de hossanas. Deixo-vos, pois, caros irmãos e irmãs alguns caminhos deste irmão, para que a vossa fé não esmoreça e um dia, se por acaso acreditardes nisso, quem sabe, quando vos for permitido o acesso ao paraíso, estes sons não vos sejam totalmente estranhos.

Não fui eu que disse, mas apetece repetir que Deus escreve direito por linhas tortas. Embora o Metal não seja o meu forte, passei a acreditar, embora não piamente. Quem mais?

26.Jun.08

Não sabia!

Foto

 

 

O movimento em defesa da educação sexual nas escolas ou as organizações de homossexuais são exemplos apontados por Sérgio Vitorino como integrantes do "pensamento novo" que caracteriza os ideais feministas da actualidade.

Começo por escrever que reconheço mérito à reflexão. Embora, como se sabe, nela se assente apenas e só alguma das  elites intelectuais. A distância que normalmente separa as elites do vulgo é abismo. Resolver o paradoxo seria útil. Pouco acreditam nessa possibilidade. Destacar a frase, acima, permite realçar algo que sugere uma disparidade, de pensamento, a tender para a exclusão, quando devia ser inclusiva. Ou seja misturar educação sexual e organizações homossexuais como factores de um pretenso novo  pensamento feminista é lastimável. Mas elas é que sabem! A defesa da educação sexual nas escolas perde, com este discurso, numa sociedade pretensamente atávica, alguma eficiência na inclusão. Mas quem afirma o que afirma é que sabe. Embora discorde. Nem penso que o ideais feministas actuais passem por aí. Ou que liberdade de género tenha que ver, de forma única e exclusiva, com a mulher. Feminismo não é sexo ou género. É comportamento. Mulher e homem são sujeitos, de acção. Eis o pessoal vislumbre do retrocesso no pretenso progresso. Quando dito, ou pensado por homens, este "pensamento novo" parece-me bandalheira progressista.

26.Jun.08

ARBEIT MACHT FREI

 

A notícia do dia (ontem) foi, segundo os seríssimos entendidos na matéria, a aprovação de um novo Código do Trabalho. Em assim sendo, e segundo ouço, o dia ter-se-á pautado por uma autentica bosta noticiosa. Desculpe-se o desabafo. Penso que não vale a pena escrever seja o que for sobre tal assunto. Está tudo dito, no título. A minha avó tinha por costume, quando o aziago batia à porta, afirmar, do alto da sua quase milenar sabedoria, que melhores dias viriam. Desconfio que não. Já nem a minha avó tem razão.

24.Jun.08

Paste de O'Neill

Porque um dia, como o de hoje, merece ser acabado assim:

 

 

 

O PAÍS RELATIVO
 
 
País por conhecer, por escrever, por ler...
 
                        *
 
País purista a prosear bonito,
a versejar tão chique e tão pudico,
enquanto a língua portuguesa se vai rindo,
galhofeira, comigo.
 
                        *
 
País que me pede livros andejantes
com o dedo, hirto, a correr as estantes.
 
                        *
 
País engravatado todo o ano
e a assoar-se na gravata por engano.
 
                        *
 
País onde qualquer palerma diz,
a afastar do busílis o nariz:
-Não, não é para mim este país!
mas quem é que bàquestica sem lavar
o sovaco que lhe dá o ar?
 
                        *
 
Entrecheiram-se, hostis, os mil narizes
que há neste país.
 
                        *
 
País do cibinho mastigado
devagarinho.
 
                        *
 
País amador do rapapé,
do meter butes e do parlapié,
que se espaneja, cobertas as miúdas,
e as desleixa quando já ventrudas.
 
                        *
 
O incrível país da minha tia,
trémulo de bondade e de aletria.
 
                        *
 
Moroso país da surda cólera,
de repente que se quer feliz.
 
                        *
 
Já sabemos, país, que és um homenzinho...
 
                        *
 
País tunante que diz que passa a vida
a meter entre parêntesis a cedilha.
 
                        *
 
A damisela passeia
no país da alcateia,
tão exterior a si mesma
que não é senão a fome
com que este país a come.
 
                        *
 
País do eufemismo, à morte dia a dia
pergunta mesureiro: - Como vai a vida?
 
                        *
 
País dos gigantones que passeiam
a importância e o papelão,
inaugurando esguichos no engonço
do gesto e do chavão.
 
E ainda há quem os ouça, quem os leia,
lhes agradeça a fontanária ideia!
 
                        *
 
Corre boleada, pelo azul,
a frota de nuvens do país.
 
                        *
 
País desconfiado a reolhar para cima
dum ombro que, com razão duvida.
 
                        *
 
Este país que viaja a meu lado,
vai transido mas transistorizado.
 
                        *
 
Nhurro país que nunca se desdiz.
 
                        *
 
Cedilhado o cê, país, não te revejas
na cedilha, que a palavra urge.
 
                        *
 
Este país, enquanto se alivia,
manda-nos à mãe, à irmã, à tia,
a nós e à tirania,
sem perder tempo nem caligrafia.
 
                        *
 
Nesta mosquitomaquia
que é a vida,
ó país,
que parece comprida!
 
                        *
 
A Santa Paciência, país, a tua padroeira,
já perde a paciência à nossa cabeceira.
 
                        *
 
País pobrete e nada alegrete,
baú fechado com um aloquete,
que entre dois sudários não contém senão
a triste maçã do coração.
 
                        *
 
Que Santa Sulipanta nos conforte
na má vida, país, na boa morte!
 
                        *
 
País das troncas e delongas ao telefone
com mil cavilhas para cada nome.
 
                        *
 
De ramona, país, que de viagens
tens, tão contrafeito...
 
                        *
 
Embezerra, país, que bem mereces,
prepara, no mutismo, teus efes e teus erres.
 
                        *
 
Desaninhada a perdiz,
não a discutas, país!
Espirra-lhe a morte pra cima
com os dois canos do nariz!
 
                        *
 
Um país maluco de andorinhas
tesourando as nossas cabecinhas
de enfermiços meninos, roda-viva
em que entrássemos de corpo e alegria!
 
                        *
 
Estrela trepa trepa pelo vento fagueiro
e ao país que te espreita, vê lá se o vês inteiro.
 
Hexágono de papel que o meu pai pôs no ar,
já o passo a meu filho, cansado de o olhar...
 
                        *
                       
No sumapau seboso da terceira,
contigo viajei, ó país por lavar,
aturei-te o arroto, o pivete, a coceira,
a conversa pancrácia e o jeito alvar.
 
 
Senhor do meu nariz, franzi-te a sobrancelha;
entornado de sono, resvalaste para mim.
Mas também me ofereceste a cordial botelha,
empinada que foi, tal e qual clarim!
 
            (Feira Cabisbaixa – 1965)
 
 
 
 
 

 

 

24.Jun.08

arte primitiva moderna

 

Proposta de novo emblema partidário. Naive, (lê-se naíf) tal como as propostas deste partido. Tal, como o líder.  Tudo nele resuma naive. Embora artisticamente tenham bastante formação na área, procuram fazer crer o contrário,  tentando passar-se por gente simples, crédula e ingénua. Eis o meu pequeno contributo para a sua ascensão ao poder, seta azul em fundo branco, que, de tanto andar às voltas, estatela-se ao centro. Pobre social-democracia. Peço desculpa, podia ter-me dado para pior. Mas, fica bem assim.

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