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PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

29.Abr.08

Le mARCHÉ AUX pUCES

As questões com que se procura enredar o novo Código de Trabalho soam a demasiado absurdas, parece que continuamos com o relógio biológico do país atrasado os estruturais 30-40 anos. Desde o tempo do "orgulhosamente sós".  O reducionismo da discussão   ao argumento de neo-consevadores versus neo-modernistas pretende tomar-nos por palermas, como se não entendêssemos o que ronda em torno da realidade comezinha de um pequeno país. Não sei muito bem quais serão as atribuições actuais ou futuras do Estado  com a globalização ou mundialização económica. Mas desconfio. O liberalismo económico não passa de mera cartelização. Companhias que, em processo autofagia, sendo a sua substância alimentar outras companhias, se tornam gigantes e dominam sozinhas o grande mercado. Ainda hoje me deparei com a compra  da Wrigley - detentora das pastilhas Orbit, (observem a imaginação sem limites para impingir este produto) - pela Mars, (aqui deliciem-se com o aspecto do site muito google earth) por 14,7 mil milhões de euros, que permite que esta última controle um terço do mercado norte-americano das guloseimas e 14 % do mercado global. Se tal significa concorrência este mercado parece muito estranho. Se tal ocorre no ramo das  guloseimas, imaginem a gula em outros mercados. O problema é que o mercado que citamos acima tem que ver directamente connosco, e, esse, está a ser vendido por umas quantas guloseimas, com que tentam dourar a pílula da flexibilização "à portuguesa", em nome da modernização do processo de trabalho. Só que esta modernização do mercado de trabalho tem muito pouco de moderno. A jornada pelas oito horas de trabalho terá surgido do nada? Basta conhecer o seu porquê para nos apercebermos da modernidade que nos querem enfiar pelos olhos dentro. Dá para perceber? Será que dá para entender?

Vá lá não desesperes Prosas, ainda tens muitas guloseimas com que te entreteres. Eles deixam-te ficar as pastilhas-elásticas Gorila. Isto é só o mercado a funcionar.

 

Adenda:

          Vital Moreira opinava, hoje, na sua coluna habitual, num diário nacional, sobre o Novo Código de Trabalho,  afirmando que "os interesses dos empregadores não podem prevalecer contra a liberdade e a dignidade dos trabalhadores." Aplaudi. Mas por pouco tempo. Logo adiante, ao referir que "dificilmente existe um terreno mais espinhoso para um governo de esquerda do que tentar reformar as relações laborais" , fiquei inquieto, pois não pode existir terreno mais espinhoso do que determinados elementos de um partido, como os que se encontram actualmente no poder, quererem fazer-se passar por esquerda. O Dr. Vital Moreira acha que o seu partido ou agremiação apenas pretende candidamente "beneficiar simultaneamente empresas e os trabalhadores". Como não acredito em milagre deste coturno, lembrei-me ao acaso dos salários em atraso, da actualização salarial abaixo da inflação dos últimos anos, das últimas décadas, através da  utilização de fórmula já gasta, de tanto uso, que me servem como argumentos para refutar tamanha "boutade" e que me bastam para entender o bondoso milagre ora proposto.

25.Abr.08

Panoramix e as poções milagreiras de certo ministro

Onde fica o país cujos políticos, no parlamento, se entretêm a comparar-se com as  ilustres personagens da célebre aldeia gaulesa? Cujo ministro das finanças diz que é muito parecido com o mago Panoramix ? Desconhecem, não sabem? Procurem então um país cujo  ministro dito das finanças utiliza como receita retirar aos remediados para distribuir pelos ricos. Um verdadeiro "às" na confecção de deficits milagrosos. Procurem lá. Vá lá.

23.Abr.08

Previsão metereológica para o Continente

Alberto João Jardim para líder do PSD. Situação que poderia eventualmente tornar-se realidade caso o senhor não passe de mero líder local, sem peso político-eleitoral fora da "sua" ilha. Os intelectuais orgânicos do referido partido provavelmente não estarão de acordo comigo. Considero, no entanto, o desafio aliciante para um político corajoso e sem "papas-na-língua". Salvar o Partido e a Pátria, eis a tarefa que se propõe ao grande timoneiro madeirense. A "Hora Madeira" chegou.

20.Abr.08

Um burlesco off-shore

 

 

 

Oh senhor Ministro só pobre é que não concorda com sua Excelência. Realmente não podia ter arranjado melhor argumento para aferir sobre a função putativa do off-shore. Segundo parece a senhora magistrada não concorda consigo. Ou comem todos ou acaba-se com a moralidade. Ora esta, uns podem e outros não. Uns são bons, os outros não. Estes são honestos, aqueles, ali ao lado, não. Depois regurgita inefáveis palavras sobre a possibilidade dos bons rendimentos possíveis e honestos. Afinal quem os não quer? Se o Estado quer, porque não o banqueiro, ali da esquina? Olhe que existe por ai muito boa gente que lhe daria de forma gratuita informações sobre os melhores e os de mais alto rendimento lícito. Ou seja são todos. É bom viver em Portugal mas a dose de paciência necessária para aturar certos dislates, como é o caso, implica que por vezes apetece mandar este país à merda.

Foto.

19.Abr.08

Coimbrinhas e Coimbrões

Como português o fado, enquanto expressão dita nacional pouco me diz. Musicalmente o fado repercute meramente uma expressão musical local, lisboeta, sendo cultivado igualmente na cidade do Porto. Mas já se sabe, o Porto não passa de uma versão b " da instituição musical denominada fado. O fado é cultura lisboeta. Ou, na circunstância, expressão, castiça ou popular, de alguns bairros, ou zonas, lisboetas. Assim nunca pode ser entendido como uma expressão musical do país, no seu conjunto.  A transformação, enquanto expressão identitária de um povo, deve-se, em grande medida, aos publicitários turísticos de meados dos anos Sessenta. O fado lisboeta será transformado em fórmula nacionalista para encher ouvido a  turista ávido em conhecer aspectos pitorescos, ou ditos culturais, do país visitado. O fado é assim uma mera expressão lisboeta. A centrifugação do país no centralismo da capital avançou igualmente no interior dos meandros da sua identidade cultural. Ontem, como hoje. Ora nem Lisboa é Portugal, nem o resto, o que sobra, é hoje já mera paisagem. Hans Christian Andersen descreve essa viagem, interminável, de comboio entre Lisboa e Coimbra, relembrando essa paisagem de "florestas e bosques cerrados" que encontra em 1866. Hoje a desusada expressão alfacinha que afirmava o Portugal do século XX enquanto Lisboa, incluindo o resto do país como mera paisagem ditou em grande medida a dimensão do Portugalinho catita que os nossos olhos e sentidos vão descobrindo hoje, quando galgamos, por auto-estrada, o país de sul a norte em poucas horas. Ou seja este Portugalinho catita tem sido desenhado a régua e esquadro pelos senhores que da província avançam em direcção a Lisboa e ali assentam arraiais. Tudo isto a propósito de quê  meu desvairado prosas que vadias pelo fado e acabas no Portugalinho catita? A propósito desta questão. Digam lá se o fado dito, e redito coimbrão, não é bem  expressão que pouco ou nada tem que ver com os seus nativos.  Com aqueles que aqui mourejaram e mourejam, cidade que foi de moçárabes, dai o mourejar, enquanto sobrevivência a quotidiano difícil. Cidade onde,os tais publicitários de Sessenta, inventaram essa inenarrável figura da Tricana e do Estudante,tendo entre ambos, como pano de fundo, uma fonte. Esconde a construí da metáfora coimbrã as engalfinhadas, embora esparsas, guerrilhas urbanas, violentas, entre futricas e estudantes. Movidas ocasionalmente também por questões que envolviam elementos femininos da população autóctone e estudantes. Assim se estabelecia a diferença entre os ditos coimbrinhas " e os ditos "coimbrões", diferenças medidas pelo trinar não das guitarras, ditas de Coimbra, porque, diferentes no soar das de Lisboa, mas pelo tilintar do metal. Cantavam os "coimbrinhas" desgraças, enquanto "coimbrões", estas gentes vindas de outros beirais, se entretinham, maviosamente e saudosamente a recordar o desfilar as águas do Mondego, em tempos de adolescência. Um dia,  todas as historietas comportam sempre um dia, surge no canto coimbrão e não fado como lhe chamam, duas personagens, Adriano Correia de Oliveira e José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos que acabaram por calar para sempre a canção ou fado dita ou dito de Coimbra. A excelência tem limites. Com eles se foi o que nunca fora de Coimbra propriamente. Com eles partiu, como sempre partiram aqueles que não são de Coimbra, o dito fado ou canção de Coimbra. Os que hoje se abeiram da cidade tocam outras músicas, embora em Coimbra já nem a tradição sobreviva.

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