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PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

30.Nov.07

De propósito


"As ditas manifestações de trabalhadores não passam de mais uma das pressões que entram na caixa negra daquilo que alguns qualificam como governança sem governo, algo que se contabiliza friamente como mais um incêndio florestal, uma cheia ou uma pequena catástrofe natural. A não ser que dê em tsunami e provoque um curto-circuito no sistema global, coisa pouco previsível, dado que, como Jacques Delors definiu a Europa, ela consegue viver com um terço de excluídos sociais, desde que garanta uma contenção, ou uma pequena melhoria de rendimento dos dois terços do centrão sociológico, dos remediados da classe média baixa que, entre nós, sustentam os partidos do Bloco central que, aliás, também são as secções portuguesas das duas multinacionais partidárias dominantes na Europa (PPE e PSE)."

Maltez,José Adelino, "Europa, Sistema Eleitoral e Greve: Faz falta ouvir a malta".[online] Disponível na World Wide Web:[http://tempoquepassa.blogspot.com],
29.Nov.07

Há o mar...e mar e a...

Em maré de marcas registadas não poderia deixar passar esta em falso! Eis a marca registada mais conhecida da Figueira da Foz e arredores. Acreditem que não tenho pretensões a almoços ou jantares grátis! Sou fraco conhecedor dos meandros gourmet figueirenses. Em tempos quedava-me pelo Gato Preto, onde as sandes eram para trabalhadores, como glosava um dos variados e hilariantes cartazes que o dono colocava a esmo pelas paredes da então simpática taberna - hoje por inerência do progresso virou mais um salão de aço inoxidável - entre os quais um destes avisava, de forma delicada, os incautos fumadores que deviam dar largas ao seu vicio a 250 metros do local onde se encontravam, o que os colocava, mais metro menos metro, no centro do rio Mondego. Daí nunca ter frequentado o aristocrático Club de Ténnis, que o mais conhecido dos Sottomayor doou, em bons tempos, à sua cidade. Por isso se lá forem não digam que fui eu que os mandei. A Dona Rosa não me conhece de lado nenhum, eu até nem sou benfiquista e adoro almoçar ou jantar descansado e incógnito.
Nota: O título do texto é uma espécie de homenagem ao grande O'Neill. Sim, esse, que um dia inventou o "Há mar e mar... há ir e voltar". A Dona Rosa agradece!
28.Nov.07

Escrita seguindo Molero (#)


o meu ponto de vista sobre a questão francesa não se resume ao bicolor, nem ao tricolor, mas a um matiz de muitas e múltiplas cores. atribuir à questão ideológica, de pensamento, de revolta, como lhe queiramos chamar, maior importância à semente de 68 do que a esta que os nossos olhos presenciam à distância, entre os deserdados da periferia e não da Sorbonne. Embora o conluio (no sentido de estarem em consonância) me pareça, a mim, declarado. Embora possa atender a semelhanças, estas são situações distintas e não siamesas, quer no tempo e na forma. podem aparentar semelhanças, onde muitos de nós podemos querer ver semelhanças. mas de facto não o são. a cor de hoje é mais violenta no sentido destrutivo, aparentemente caótico e anárquico. mas eu pergunto a mim próprio o que fazer perante o facto de os organismos repressores se apresentarem cada vez mais organizados e refinados? como se pode hoje enfrentar forças militarizadas, que surgem como reestabelecedoras da ordem do Estado? do estado que não resolve? de um Estado que relega para as franjas da marginalidade as/os cidadãos de amanhã? como fazer então? o uso da espada, chegará? em 68 o mundo rodava a uma velocidade mais moderada, as respostas de hoje não podem ser idênticas, nem na forma nem no espírito. exige-se um estado mais responsável e maior respeito pelos cidadãos. exigem-se governantes e não egos desmesurados engaiolados pela sedução do poder. harmonia social pede-se, enfatiza-se. repressão só mostra medo.

(#) referência á revolução de Diniz Machado e ao seu livro O que diz Molero
26.Nov.07

"Não há já segredos" (#)

O meu velho amigo e companheiro das longas noites de invernia de seu nome Ramalho Ortigão enviou-me, via e-mail, estas prosas. Que vos despacho desta forma:

Os que governam acham-se informados de tudo quanto pensam os governados. Não têm mais que ler, e resguardar-se. Acabou para os governos a surpresa, a emboscada, a perseguição encoberta.

Esses perigos já não existem realmente senão para os governados, que tem contra si, posto que mantidos e pagos por eles próprios, os únicos poderes ocultos que subsistem no regime das sociedades modernas: os recônditos planos de guerra entre governo e governo, a diplomacia, a polícia secreta, a intriga de corte para corte, a espionagem sobre cidadãos suspeitos, a violação descartas, a visita domiciliária, a busca de papéis de cada um, etc.

Se nós, particulares, tivéssemos de garantir-nos contra os governos com a mesma segurança com que os governos se acham garantidos contra nós, a primeira obrigação que lhes imporíamos seria a de terem um jornal e de imprimirem nele em cada manhã absolutamente tudo quanto pensassem de nós, para o bem e para o mal, mas principalmente para mal, porque o importante, porque o essencial é, sobretudo, isso: avisarem-nos do que nos prejudica.

Ora caro e amigo Ramalho se em 1871 assim se estava, em 2007, aviso-te que, estejas tu onde estiveres -realmente achei estranho o teres enviado um e-mail- a coisa está na mesma. Mudem-se algumas palavras, altere-se- pouco- o sentido de outras e o Galinho de Barcelos continua de cores garridas. Andamos assim há 136 anos bem contados. Mas obrigado pela lembrança. Cá continuaremos a ler essa belas Farpas com que nos presenteias.

(#) O título é frase do Ramalho Ortigão. Eu não tenho jeito para intitulações. A Times o original. Volume Quinto, tomo IX, Lisboa, Círculo de Leitores, 2006.
26.Nov.07

Leviathan


Lavro o pessimismo porque o vejo erguer-se. Como coisa de somenos. Aparente. O problema é já dos que não compreendem. Moucos ou surdos, alimentam-se na vã esperança de que o rumo seja o traçado indefinidamente, infinitamente. Vislumbram-no - ao futuro- exalando pragmatismo. Enxotando os vitupérios como fazem às moscas. Pretendem vencer inércias como se o país fosse já de novo, novo. Como se o velho país alguma vez tivesse sido velho! Expurguem-se dos títulos a vileza da mentira e do que fica resta essa incómoda e sonolenta melopeia...que começa a soletrar... já basta! Ainda agora observo nos côncavo do discurso que prolifera, dito por velhos árcades - de poesias antigas-, a ressoarem de novo a melodia do social. Da reviravolta, do contorcionismo. O país agora respira, avança, progride. Sopram-me. Entrou definitivamente no eixo. E que eixo esse! Penso eu, em conjunto com os botões. Chegados aqui enfrentemos as massas dos deserdados do costume. Dê-se-lhe algum pão e um pouco de circo, porque não? Nas arcas deverá haver dinheiro suficiente para satisfazer tão ínfima questão. Daqui a dois anos todo o poder deste mundo será de novo nosso. Ninguém à volta para incomodar. Alguns terão dito ...não foi para isto! Pelos vistos foi. Outros deixariam que fosse. Estamos precisamente no mesmo local. Por muito betão que nos atafulhe os horizontes, por muitas teclas que nos emprenhem os dias. Só as horas, os dias, os anos foram as únicas parcelas da vida que mudaram. Apenas. Mas mal seria se ainda estivéssemos lá atrás. Como o relógio aqui do lado. Movemos... sim! Só que acabámos precisamente onde estávamos. Se ainda não estamos, para lá caminhamos.
24.Nov.07

Chamam-lhe Dom


Peço desculpa por interromper as vossas lucubrações . Passei parte do meu dia de hoje a meditar e a dissecar a entrevista do cidadão português Januário Torgal Ferreira. Bem sei que podem afirmar que existem assuntos mais importantes. Provávelmente para vós. Para mim não. Confesso-me convictamente e activamente agnóstico. Mas não jacobino religioso. Ora Januário Torgal Ferreira durante a entrevista a Maria Flor Pedroso colocou-me ao lado de uma Igreja na qual me revejo enquanto cidadão não religioso. Dito isto, para quem ouviu a referida entrevista, penso ter expresso parte do gozo intelectual que me foi proporcionado durante os quase cinquenta minutos que durou a referida entrevista. Gosto de pessoas frontais, venham estas donde vierem. Gosto de pessoas com ideias estruturadas. Gosto de pessoas que fazem os outros pensar. Gostei da expressividade frontal de Dom Januário. Espero que os nossos queridos "outsiders" , como referia Joana Lopes, tenham a capacidade de reflectir sobre as palavras do Bispo português e jocosamente rirem-se de si mesmos e tomarem para si toda a presunção que lhes aprouver. Continuo ignorante. Céptico quanto à existência de Deus. Do Deus da Igreja de Roma. De todos os deuses que tentem impingir. Já me basta pretender entender Sören Kierkegaard.
Quanto a Januário Torgal Ferreira entendi o seu DOM.

Nota: Por impossibilidades técnicas é-me impossível colocar aqui a entrevista que pode no entanto ser escutada na página da RDP/Antena Um em áudio wma. Façam favor.
23.Nov.07

Baia das Almas


Pelo pouco que percebo de futebol, desporto estúpido e dado ao populismo, envolvido em estranhas manobras de bastidores e outras sombras que reflectem a nossa maneira de ser. A nossa forma de estar. Sendo o futebol uma das peças chave das intermináveis discussões matinais entre trabalhadores por contra de outrem, até entre esses outros outrem. Seria de estranhar que o mesmo não padece-se do mal geral. Muito se diz, pouco se sabe, pouco se faz. Mas soube bem ouvir esta frase ..."Na Baía das Almas" dita pelo dito treinador dessa dita selecção de futebol do país em que habito. Não vou em futebóis, mas alinho em caracóis. Daí esta minha costela verdadeiramente nacional. Identificada pelo facto de que quando estou deveras arreliado também me apetece andar ao soco e dizer palavrões! Pouco diplomático, dirão alguns. Talvez. O senhor Scolari também e não foi preso. O que até acho bem. Sigo esse apelo ancestral do ser português aqui e agora. Mas foi com a sua frase que entendi. Entendi como é fácil baixar o déficit. Basta seguir a receita deixada por Oliveira Salazar. É que não foi na Baía da Almas, não! Foi através do aumento da carga fiscal daqueles que estão impossibilitados de não pagarem impostos, percebendo nós que a nobre arte da fuga se concentra entre as grandes agências bancárias e as grandes empresas de capitais multinacionais que pagam principescamente a quem, de forma cientifica, consegue fazer aumentar os seus lucros e não ficar a dever nada de impostos ao Estado. Os OUTROS, esses ficam entregues a essa Baía na qual desaguam as práticas discricionárias, autoritárias, as quais o Provedor de Justiça resolveu publicitar. Essa é a Baía das nossas Almas. A Baía de todas as Almas, das pobres Almas. Tenham um BOM DIA.

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