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PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

31.Jul.07

TORGA



Miguel, aliás mais Adolfo Rocha,
que Torga, desvenda a "modesta mediania risonha" da cidade que o acolheu. A Homenagem com estátua, que a mesma cidade promove, prossegue. Embora concorde com as palavras de Torga, aliás de Adolfo Rocha, sobre a cidade. No fundo, embora seu amante, sou, de certo modo, nela um exilado. A mim parece-me modesta a estátua, assim como mediana a homenagem, embora risonha a Portagem, vestida de estátuas. A Pátria de Torga era outra. Coimbra sempre lhe será estranha. Ambos viveram fechados sobre e entre si, talvez por isso Torga e Rocha, nela se tenham quedado. Talvez, afirmei eu, quem pode saber essas coisas? Foram ambos, a cidade e eles, eles e a cidade, filhos de um engano perene ?
29.Jul.07

Da História

Clio (1790). Liebighaus, Frankfurt.

Costumo pensar que José Gil, passada que foi a euforia em torno do"Portugal, Hoje - O Medo de Exitir" de 2005, escreveu com a obra "Salazar: A Retórica da Invisibilidade" saída em 1995, uma clara definição do que à pouco foi relembrado pela excelência das BRUMAS, algo que, embora na bruma, se deve tomar em conta para a compreensão do presente e sobre a mentalidade da sociedade portuguesa, quer no seu conjunto, quer no individual.
O condicionamento mental que se pode entrever, gerado, perpetrado, concretizado e profundamente enraizado na sociedade portuguesa pelo regime que fundou, embora ambos (Oliveira Salazar e o regime) não tenham gozado de perenidade, mantém-se. Pense-se uma sociedade manietada pela inércia, conformada, onde, como afirmava José Gil, em 1995, "vivemos num presente que se perpetua. Não se inscreve em nós o futuro nem o passado, a História.". Sabedores de que foi precisamente na recriação e manipulação da História que o Estado Novo, consolidou a imposição de uma determinada ideia para o país, mas também para o viver comum (refiro-me ao país do pitoresco, do viver rural, etc.). O filósofo ainda recentemente expressou na revista Visão,(19 de Julho de 2007), que enquanto sociedade "temos um laço de amor com o salazarismo". Tal frase, retirada assim do contexto, no qual deve ser inteiramente lida, pode parecer a alguns, ofensiva. Embora continue a pensar que é nessa e dessa relação que devemos, na minha opinião (embora saiba que muitos ainda possam partilhar esse laço dito "amoroso"), através da compreensão histórica do salazarismo, entender da nossa actual condição enquanto indivíduos e sociedade. Na realidade é através do exercício de apreensão do passado que se pode realizar esse verdadeiro acto de amor que se consubstancia na tentativa de nos compreender-mos enquanto sociedade e indíviduo. Embora a finalidade última da História esteja nos antípodas da previsão (embora alguns o tivessem tentado), uma sociedade que se interroga para que serve a História, só pode de ser uma sociedade que passa por uma grave crise de identidade.
28.Jul.07

A FRASE


António Arnaut disse. A TERCEIRA NOITE, chamou-me a atenção para a frase, que aqui se volta a repetir. Que merece ecoar, para além do habitual na época, que muitos apelidam de "silly season" ou, em português mais vernáculo, a chamada época da Praia dos Tomates.
Eis alguns dos políticos-hamburguers da minha geração. Na vez de profundidade, revelam tiques, na vez da maturidade, aprofundam o país folclórico, onde se torna mais fácil sobreviverem.
27.Jul.07

Ovo estrelado


A propósito desta questão transcendental, proponho que, ao invés de estrelas, os hospitais nacionais passem a ostentar pequenas cruzes (do tipo daquelas que se usavam nas páginas necrológicas dos jornais) e assim ao invés das estrelas, os hospitais que ostentassem mais cruzinhas seriam aqueles de que seria bom fugir a sete pés. A explicação para tal escolha não me parece necessária, por demasiado óbvia, poderia ofender, de certo, a lucidez dos portugueses que acreditam que estrelar hospitais não é a mesma coisa que estrelar ovos!
25.Jul.07

Poema pouco original do medo

Alexandre O'Neill soletrou assim o medo:


O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis (o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários (assim assim)
escriturários (muitos)
intelectuais (o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter e tenho medo que é justamente o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos






Nasci em período de medos.

Cresci, disseram-me, em Democracia, que me ensinou que não se devia ter medo.

Que por vezes a liberdade custa sangue, para ser conquistada.

Nasci num período em que existiam pessoas que vigiavam outras pessoas, apenas por mera vontade de vigiarem.

Cresci num período em que a Democracia ensinava que as pessoas deviam viver em liberdade, expressar as suas opiniões, assumindo o que pensavam, sem gente que as vigiasse, mesmo que as suas ideias fossem contra a corrente, sem medo.

Ensinaram-me que se fosse responsável, podia ser livre.

Hoje falam-me de medo, de um medo que antes existia e eu nunca conheci.

Não sei se ele é igual.

O medo de hoje, escrevem, tem que ver com a liberdade. A liberdade que me disseram que não existia, quando nasci.

Mas eu nunca senti medo, mesmo sabendo que não tenho nenhum quadrado, continuo a acreditar que vivo em Democracia.

Como muitos outros que nunca acreditaram que o medo poderia durar eternamente.

Sabendo mesmo que existem outros cidadãos que não conseguem viver sem partilhar o seu medo, e outros, alguns, muitos, não sei, que gostam de sentir o odor ao medo, dos que tem medo. Espalham o medo. O que eles querem é que o medo exista.

Por isso o medo não existe.
São eles que tem medo, tem medo da liberdade.
Tem medo dos que continuam sem medo.
Tem medo de não saberem ser livres.

Esse é o medo que está medrar, daninho.
E eu tenho asco a um país com medo da liberdade, ao país onde nasci e onde existia medo.
Um medo que disseram não voltaria a existir. Por isso continuo sem medo.
Mesmo que o medo me apague.
24.Jul.07

A Figueira da Foz e as gloriosas máquinas voadoras

A foto mostra o então Aérodromo Humberto da Cruz,
durante os anos 40 do século XX, situado na Murraceira. Dele pouco resta, as memórias de alguns figueirenses mais idosos, disperso e diverso espólio fotográfico, referências múltiplas na imprensa local, um fundo denominado Aero-Clube da Figueira da Foz, donde constava (porque, entretanto, foi dado como desaparecido do Arquivo Local) um Livro de Actas das Sessões deste Aero-Clube, entre 1935-1950, tal como é referido no Recenseamento dos Arquivos Locais - Câmaras Municipais e Misericórdias, vol. 7, Distrito de Coimbra, IPCM, 1997, p. 185. Neste tempo em que muito se fala de aeroportos, relembre-se o aviador, que nascido em Coimbra, será na Figueira da Foz, que desenvolve acção meritória em prol do desenvolvimento da urbe e do seu turismo. O malfadado aérodromo figueirense desapareceu, teve inclusive outros projectos, entre os finais do século XX e inícios do século XXI, mas que nunca passaram do papel. Este existiu mesmo, seria útil relembrar aos figueirenses mais novos e provávelmente a muitos dos seus actuais habitantes a história da sua existência.





21.Jul.07

A velha Europa



"Comme un homme politique ne croit jamais ce quil dit, il est étonné quand il est cru sur parole"
Charles de Gaulle.
Hoje o que é a Europa? Palavra que os políticos europeus usam, mas em que não acreditam, ficando estupefactos, quando descobrem alguém que nela ainda acredita!

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