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Pequeno excerto da possível "apresentação" inserta na proposta de trabalho para o mestrado, sobre o turismo figueirense, que estou a tentar realizar.
A modos que, como indicado no título, numa espécie de cólofon, nunca e em nada comparável ao difícil e penoso trabalho realizado pelos monges-copistas medievais, onde estes deixavam registados, para a posteridade, o quão árduo havia sido o trabalho. Neles exaravam desde os mais modestos aos mais extraordinários pedidos que povoavam as mentes desses extraordinários homens medievais.
Sensação, no entanto, muito aproximada, após percorrido o longo caminho da investigação, muita das vezes solitária e morosa, quando o labor da escrita começa a definir contornos de caminho.
"A difusão das práticas da vilegiatura, ao longo do século XIX e princípios do século XX, induziu o aparecimento de uma nova tipologia urbana, nas costas marítimas: a estância balnear. Esse movimento social e cultural em direcção ao mar, aos terrenos banhados por águas carregadas de iodo e sal, surge do encontro de dois "novos" comportamentos , o do indivíduo face ao mar, magistralmente descrito pelo historiador francês Alain Corbin(1), e o subsequente despertar de um "novo" tempo, o "tempo para o corpo", que André Rauch(2), descobre entre a amálgama das práticas ociosas, que se conjuga na vilegiatura genéricamente e, em particular, na prática dos banhos de mar e na vida quotidina das estâncias de veraneio, durante a época balnear.
Duas novas atitudes do homem face ao mar e ao corpo, que acabariam por desencandear, dois séculos após terem surgido entre a aristocracia europeia e cuja difusão, de forma capilar, entre os estratos sociais imediatamente inferiores, se procedeu de forma lenta, a massificação do turismo, em finais do século XX.
O denominado "turismo de massas", designado por Marc Boyer(3), como uma construção da história, é um fenómeno contemporâneo, sucessor das práticas elitistas vislumbradas desde meados do século XVIII e do lento processo de difusão entre as diferentes classes sociais, que eclode, com a pujança conhecida, após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Ambos os fenómenos, analisados e estudados no decurso do seminário "Turismo e Desenvolvimento" do Mestrado de História Social e Económica 2004/2006, orientado pelo Professor Doutor R. C., estão na origem deste trabalho de análise histórica, sobre o turismo na Figueira da Foz, entre as décadas de 1930 e 1950."
Pequena nota:
O incremento do turismo, em termos históricos, apesar dos seus aspectos económicos, insere-se nos campos da sociabilidade e das mentalidades, onde, no caso específico, se assiste à socialização da praia e do mar e das zonas envolventes. Representam, em si, o registo das alterações no campo do social, provocadas pela mudança das mentalidades, face ao mar e ao corpo. As "comunicações entre o indivíduo e o que o rodeia, os meios pelos quais recebe os modelos culturais"(4) acabaram por desencadear todo o processo de difusão e massificação do turismo, no seio da sociedade contemporânea.