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PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

30.Jun.07

A Minha Aldeia (vista do céu)


Hoje apetece-me percorrer a minha aldeia, nesta perspectiva. Do ar. Bem lá de cima. Sem vertigens e sem trânsito. Gentes, em ponto pequenino. Telhados, os telhados da minha aldeia são mais belos vistos de cima. Bom fim-de-semana.
Foto do arquitecto Filipe Jorge, retirada da obra Coimbra vista do Céu, com texto de José António Bandeirinha, edição da Argumentum integrada na programação "Cidade e Arquitectura" de Coimbra 2003.
"Ver do ar é admirar, de uma forma irrepetível, aquilo que o olhar mais atento e perspicaz não consegue apreender no quotidiano"
Filipe Jorge "Abertura" in Coimbra vista do céu, p. 9. (e clique-se na imagem)
29.Jun.07

Bom Povo Português

O título refere um documentário/longa metragem de Rui Simões, de 1979. Uma visão pessoal do país no período de 25 de Abril de 1974 a 25 de Novembro de 1975. Não, não são tempos de referência pessoal, nem sombras de réstias nostálgicas. A sua [re]visão, após longos anos escondido entre centenas de filmes ainda em VHS, pareceu-me (parece-me) adequada a servir de contraponto a esta outra foto de René Maltête, que parece retratar o estado em que se encontra esse mesmo povo, em 2007. Uma imensa maioria deste povo.
27.Jun.07

Casa Havaneza


Cento e vinte anos depois encerrou-se um ciclo da velha "Havaneza" figueirense.

Para os mais afoitos fica a excelente exposição acompanhada do não menos excelente catálogo .

"Uma vertente altamente revelante da longa vida da Casa Havaneza liga-se com o facto de ela se ter transformado num local habitual de convívio, desde a época do seu fundador, José Augusto dos Santos, até aos tempos mais recentes. [...] Nesse aspecto, a Havaneza foi indubitavelmente um dos grandes centros de sociabilidade figueirense."

Rui Cascão, "Notícia Histórica" in Casa Havaneza. O encerrar de um ciclo, Figueira da Foz, Câmara Municipal da Figueira da Foz, 2007.



26.Jun.07

PETARDO

A propósito de inaugurações recentes, uma das conclusões a que se chega é que estas em Portugal, não se fazem sem um bom foguetório. É de tradição. Seja em inauguração de auto-estrada, de feira gastronómica, de botequim, de farda nova para banda filarmónica, de fontanário, ou antes ou depois, sem petardo é que não. Lá aconteceu na inauguração da COLECÇÃO que também meteu PETARDO. Embora o museu seja de arte moderna, não fugiu à tradição.
26.Jun.07

Gafanhotos verdes

A propósito do referendo sobre uma inexistente (ou moribunda , como vos aprouver) Constituição Europeia,
um €deputado europeu, de sua graça Sérgio Sousa Pinto, numa entrevista ao jornalista João Pedro Henriques, do Diário de Notícias, na segunda-feira passada, afirmava o seguinte: " Não lhe reconheço nenhum gano político e só é sintoma da crise do sistema parlamentar. A verdade é que os parlamentos são indispensáveis ao funcionamento da democracia e os referendos não. É o parlamento que define a democracia, não é o referendo. O referendo só é um instrumento legítimo e adequado para questões menores."
Concordo senhor Sérgio, as questões menores em democracia, prendem-se com os referendos e com essa eterna chatice que são as campanhas eleitorais (como actualmente se comprova em Lisboa) durante as quais os partidos mostram as mais enervantes fragilidades quer no discurso quer nas personalidades que os enformam.
Compreendo que, para Vossas Excelentíssimas, esse seja o maior pecadilho do democracia, o enorme frete a que se tem que prestar durante esses períodos em que mais parecem "alien's" que gente de "carne e osso". Mas é assim, infelizmente temos que dar o corpinho ao manifesto, porque isso de ser político profissional, traz alguns dissabores e muitos gafanhotos no discurso. Foi o caso do seu, meu caro eurodeputado. Tem o direito de considerar o referendo um assunto menor em democracia, sem dúvida alguma. Mas já agora diga-me o que entende por democracia?
24.Jun.07

Frases enigmáticas


Era de tarde, num qualquer dia da semana que passou, ia no carro, ouvia o RCP a caminho de algures, como habitual. O que fugiu ao habitual nessa tarde, foi frase solta no éter, a propósito da nova "Lei para a Universidade" (abreviando) pelo entrevistado Aníbal Pinto de Castro</span></strong>, que resumidamente afirmava que hoje os "socratistas" são-no ainda mais que o seu mentor. A frase, vinda de onde vêm, dá que pensar. É que para cúmulo do enigma estes foram comparados com um tempo que o Professor tão bem conheceu, onde nem os próprios "salazaristas" seriam mais "salazaristas" que o seu chefe. Provávelmente porque quem mandava era ele.
Enfim, apenas mais uma frase enigmática, nos tempos que correm.
A reflexão sobre o exacerbar de um seguidismo serôdio implica a existência de uma cartilha. Por onde se aprenda o solilóquio. Que cartilha é usada hoje, desconheço. Mas que deve haver uma cartilha, desconfio.
A da foto é antiga, a folhinha aqui inserta pertence à Cartilha Escolar do então dito inspector do ensino escolar Domingos Cerqueira, e circulava no país em 1912. O seu efeito, embora a exposição fosse diminuta, ainda se faz sentir. Passa de pais para filhos sucessivamente. Herda-se, permanece no fundo do imo.
22.Jun.07

Profundo


decretaram que a liberdade afinal
era uma banalidade e como tal
apenas uma entre milhões de palavras sem sentido.
Calai-vos !
gozai assim as últimas résteas
do destemor que a liberdade ensina
21.Jun.07

A propósito do senso

O senso comum, parece-me insensato, o que é hoje o dito senso comum? O que verdadeiramente interessa é relançar duas pequenas frases, sobre o que é isso do dito senso comum.
Fernando Catroga afirmava durante um colóquio realizado em Janeiro de 2006, numa pessoal reflexão sobre o comum conceito de ciência e a sua relação com a história, que nesta " reproduzir o senso comum não é bom senso". Pormenor importante, o senso comum é um conceito pouco válido em termos científicos.
Embora sejam usuais os apelos ao senso comum, à chamada "sabedoria popular" onde o conceito é normalmente englobado e validado como algo proveniente dos fundos do tempo. De um saber de experiência feito.
Ora reproduzir o conceito, quer cientificamente, quer em assunto comezinho, não passa de trapaça, quando se procura equiparar senso comum a sageza. Sendo o senso comum algo que me parece pouco óbvio. Senão vejamos, o senso comum quando reproduzido no discurso político, não é realmente bom senso.
Por último na revista História, de Junho 2007 António Manuel Hespanha, em artigo de opinião sobre a eterna questão do rigor na escrita da história e a possibilidade (real) da tentativa de controle desse processo de criação, dos imaginários políticos, (um dos seus campos de reflexão) afirma que o oficio deve seguir a problematização do adquirido, do assente, do comummente aceite, dado que não o fazer implica "não acrescentar senso comum ao senso comum".
Ora o senso comum aqui reflectido por António Hespanha, não é um sofisma, espelha uma realidade, que devia ou deve ser comummente aceite (ou seja devia ou deve pertencer ao senso comum dos historiadores) a impossibilidade de uma escrita histórica que não problematize, mesmo que (caso implique ou seja necessário) tal venha a colidir com o/os poderes estabelecidos.
Pensado assim pode parecer que a representação mental do senso comum é dicéfala, quer este seja de cariz popular ou erudito, embora apareça defenido como comum, em ambas as expressões. O comum aqui é também aqui uma expressão de hábito, de um hábito necessário, porque inexistente ou pouco corrente.
Devia-se apelar ao bom senso e nunca ao senso comum. Porque o senso comum normalmente impele ou expele aquilo que no homem existe de animal, pensante, mas animal, porque do foro do irracional. A luta pela sobrevivência ( e é disso que se trata) apela quase sempre, ou quase sempre, a uma predisposição para o comum, para a destruição dos valores humanos, do homem enquanto homem, do irracional em desfavor do ser racional. O poder corrompe (é uma constatação/reprodução, faz parte do senso comum) e nada acrescenta a um necessário bom senso no seu exercício, no entanto a expressão acaba por banalizar a possível necessidade de alteração. Ora o bom senso apela a que o senso comum seja varrido do hábito, do habitual.
Ramalho Ortigão, acima reproduzido

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