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O senso comum, parece-me insensato, o que é hoje o dito senso comum? O que verdadeiramente interessa é relançar duas pequenas frases, sobre o que é isso do dito senso comum.
Fernando Catroga afirmava durante um colóquio realizado em Janeiro de 2006, numa pessoal reflexão sobre o comum conceito de ciência e a sua relação com a história, que nesta " reproduzir o senso comum não é bom senso". Pormenor importante, o senso comum é um conceito pouco válido em termos científicos.
Embora sejam usuais os apelos ao senso comum, à chamada "sabedoria popular" onde o conceito é normalmente englobado e validado como algo proveniente dos fundos do tempo. De um saber de experiência feito.
Ora reproduzir o conceito, quer cientificamente, quer em assunto comezinho, não passa de trapaça, quando se procura equiparar senso comum a sageza. Sendo o senso comum algo que me parece pouco óbvio. Senão vejamos, o senso comum quando reproduzido no discurso político, não é realmente bom senso.
Por último na revista
História, de Junho 2007
António Manuel Hespanha, em artigo de opinião sobre a eterna questão do rigor na escrita da história e a possibilidade (real) da tentativa de controle desse processo de criação, dos imaginários políticos, (um dos seus campos de reflexão) afirma que o oficio deve seguir a problematização do adquirido, do assente, do comummente aceite, dado que não o fazer implica "não acrescentar senso comum ao senso comum".
Ora o senso comum aqui reflectido por António Hespanha, não é um sofisma, espelha uma realidade, que devia ou deve ser comummente aceite (ou seja devia ou deve pertencer ao senso comum dos historiadores) a impossibilidade de uma escrita histórica que não problematize, mesmo que (caso implique ou seja necessário) tal venha a colidir com o/os poderes estabelecidos.
Pensado assim pode parecer que a representação mental do senso comum é dicéfala, quer este seja de cariz popular ou erudito, embora apareça defenido como comum, em ambas as expressões. O comum aqui é também aqui uma expressão de hábito, de um hábito necessário, porque inexistente ou pouco corrente.
Devia-se apelar ao bom senso e nunca ao senso comum. Porque o senso comum normalmente impele ou expele aquilo que no homem existe de animal, pensante, mas animal, porque do foro do irracional. A luta pela sobrevivência ( e é disso que se trata) apela quase sempre, ou quase sempre, a uma predisposição para o comum, para a destruição dos valores humanos, do homem enquanto homem, do irracional em desfavor do ser racional. O poder corrompe (é uma constatação/reprodução, faz parte do senso comum) e nada acrescenta a um necessário bom senso no seu exercício, no entanto a expressão acaba por banalizar a possível necessidade de alteração. Ora o bom senso apela a que o senso comum seja varrido do hábito, do habitual.
Ramalho Ortigão, acima reproduzido