
Portugal, seguindo as tendências europeias, embora com algum desfasamento temporal, (mas que fique claro, sempre assim foi) não é um país nem de centro-esquerda, nem de centro-direita, é um país do centro-nada.
O centro-nada mistura uma classe política fossilizada (vejam-se os tiques dos jotas qualquer coisa, onde o humor tipo Gato Fedorento estará a fazer escola, que, sendo uma cópia, não possui, por isso, interesse intelectual algum!), com cidadãos amorfos, onde a cultura de exigência democrática ainda raia a quase indigência.
Embora a denúncia factual seja quase ordinária, porque diária, por vezes telenovelística, não deixa de ser alarmante o ponto em que se encontra a nossa sociedade. A classe política surge, nestes impressivos tempos, como desde sempre se apresentou. Impreparada, inculta, salvo raras e excelsas excepções, pontuada aqui e ali por corruptos, que lhe acabam por ditar a imagem final, agarrada ao poder, sem rumo e sem carisma.
O preço da liberdade, sendo um preço demasiado alto, exige uma sociedade onde todos assumam responsabilidades de forma activa e participativa.
Responsabilidades que se consubstanciam numa reflexão individual sobre o papel de cada um no assento da vida pública democrática. Que, desde há muito, não deveria estar apenas assente no carácter electivo da democracia, cuja importância não deve reduzir a única forma participativa dos cidadãos, na vida política e pública do país.
A exigência na participação activa permite igualmente a exigência, aos políticos, de um governo honesto e eficaz. Será que ninguém repara nisso?
A democracia esvai-se por entre os dedos, facilmente, parecendo que o facto, desta, nos ter sido oferecida, através de um processo conjuntural, já lá vão, apenas e só, trinta e dois anos, isso pareça bastar para a tornar eterna. É um sentimento muito curioso este.
Por muito que os arautos do futuro anunciem bolsas de excelência para contrariar o pessimismo, sabendo-se que o país desde sempre teve bolsas de excelência, frutos do acaso, ou de excepcionais condições, por vezes arrancadas a ferros ao poder central, no qual alguns portugueses se habituaram a viver, nada mais se passa para lá do Sua Excêlencia. Com direito a placa, em dia de inauguração.
E tudo isto a propósito de quê? Simplesmente porque ao acabar com uma medida discricionária, a nova lei volta a consagrar outra. O exemplo, os exemplos, sucedem-se a um ritmo trepidante, fala-se em democracia para aqui, democracia para ali, mas, seria mais justo, </span>
que medidas destas fossem repensadas, quando são anunciadas como se fossem uma coisa e na qual a realidade se encarrega de nos mostrar o contrário. Evitavam-se comentários, como os que são proferidos pelos responsáveis da distribuição de um bem comum, na minha cidade. Que desmontam, cabalmente, a fórmula legislativa, que pretendia por fim ao aluguer dos contadores da distribuição de água. Onde, claramente, os cidadãos ficam a pairar sobre um mar de incertezas e arranjinhos de última hora.</span> Pratique-se a democracia de forma transparente. A ser assim... bastava como estava. Era um roubo mutuamente consentido. Agora,passa a ser um roubo, muito pouco esclarecido.