Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

29.Mai.07

O CentroNadão.


Portugal, seguindo as tendências europeias, embora com algum desfasamento temporal, (mas que fique claro, sempre assim foi) não é um país nem de centro-esquerda, nem de centro-direita, é um país do centro-nada.

O centro-nada mistura uma classe política fossilizada (vejam-se os tiques dos jotas qualquer coisa, onde o humor tipo Gato Fedorento estará a fazer escola, que, sendo uma cópia, não possui, por isso, interesse intelectual algum!), com cidadãos amorfos, onde a cultura de exigência democrática ainda raia a quase indigência.

Embora a denúncia factual seja quase ordinária, porque diária, por vezes telenovelística, não deixa de ser alarmante o ponto em que se encontra a nossa sociedade. A classe política surge, nestes impressivos tempos, como desde sempre se apresentou. Impreparada, inculta, salvo raras e excelsas excepções, pontuada aqui e ali por corruptos, que lhe acabam por ditar a imagem final, agarrada ao poder, sem rumo e sem carisma.

O preço da liberdade, sendo um preço demasiado alto, exige uma sociedade onde todos assumam responsabilidades de forma activa e participativa.

Responsabilidades que se consubstanciam numa reflexão individual sobre o papel de cada um no assento da vida pública democrática. Que, desde há muito, não deveria estar apenas assente no carácter electivo da democracia, cuja importância não deve reduzir a única forma participativa dos cidadãos, na vida política e pública do país.
A exigência na participação activa permite igualmente a exigência, aos políticos, de um governo honesto e eficaz. Será que ninguém repara nisso?
A democracia esvai-se por entre os dedos, facilmente, parecendo que o facto, desta, nos ter sido oferecida, através de um processo conjuntural, já lá vão, apenas e só, trinta e dois anos, isso pareça bastar para a tornar eterna. É um sentimento muito curioso este.
Por muito que os arautos do futuro anunciem bolsas de excelência para contrariar o pessimismo, sabendo-se que o país desde sempre teve bolsas de excelência, frutos do acaso, ou de excepcionais condições, por vezes arrancadas a ferros ao poder central, no qual alguns portugueses se habituaram a viver, nada mais se passa para lá do Sua Excêlencia. Com direito a placa, em dia de inauguração.
E tudo isto a propósito de quê? Simplesmente porque ao acabar com uma medida discricionária, a nova lei volta a consagrar outra. O exemplo, os exemplos, sucedem-se a um ritmo trepidante, fala-se em democracia para aqui, democracia para ali, mas, seria mais justo, </span>que medidas destas fossem repensadas, quando são anunciadas como se fossem uma coisa e na qual a realidade se encarrega de nos mostrar o contrário. Evitavam-se comentários, como os que são proferidos pelos responsáveis da distribuição de um bem comum, na minha cidade. Que desmontam, cabalmente, a fórmula legislativa, que pretendia por fim ao aluguer dos contadores da distribuição de água. Onde, claramente, os cidadãos ficam a pairar sobre um mar de incertezas e arranjinhos de última hora.</span> Pratique-se a democracia de forma transparente. A ser assim... bastava como estava. Era um roubo mutuamente consentido. Agora,passa a ser um roubo, muito pouco esclarecido.
29.Mai.07

Adolfo Rocha 1907-1995


SÍSIFO
Recomeça...
Se puderes...
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
nesse caminho
duro do futuro,
dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
vai colhendo
ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
e vendo,
acordado,
o logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura onde,
com lucidez, te reconheças.


28.Mai.07

Há cem anos...

Porque, por vezes, mudam apenas os nomes.
"[...] há poucos dias, o orgão oficioso do Partido Progressista dizia que tão pouca importância tinham as personalidades dos ministros que constituem o gabinete que será fácil encontrar quem de pronto e de uma assentada lhes diga os nomes; só um nome, o do presidente do Conselho, lembra. Não há mesmo Conselho, porque o sr. João Franco não tem para que e de quem tomar conselho; ele manda, obedecem; ele pensa, executam; ele imagina, defendem e proclamam."
escrevia Sampaio Bruno, no portuense jornal A Voz Pública, de 9 de Junho de 1907.
in "Ditadura", 1907. No advento da República, Lisboa, Biblioteca Nacional, 2007, p. 78-80.

Agradecemos a foto da obra
27.Mai.07

Um país a drenar


Este é o maior dreno do mundo. Pode ser observado na Barragem de Monticello, na Califórnia do Norte. O seu funcionamento é simples: após o enchimento da barragem até ao limite de segurança da cota máxima, a água, em excesso, cai pelo dreno, permitindo assim que a água contorne a barragem quando atinge a sua capacidade máxima . Sintetizando um dreno funciona como um enorme funil.
A drenagem "à portuguesa", feita através da delação, hábito, uso ou costume já antigo, tem sido acompanhada por formas ainda mais hilariantes, como as trapalhadas incompetentes de um qualquer criado ou lacaio menor, do desmentido nocturno das declarações diurnas de um qualquer aspirante a bobo da corte ou então utilizando um pequeno palanque com microfone. Embora não sendo formas genuinamente portuguesas, têm sido muito utilizadas para afunilamento da "governança" portuguesa.
Enfim, a nossa sorte é que, ultimamente, o funil, tem escoado muita água. Assim, a possibilidade de nos divertirmos, com o enorme funil em que nos encontramos, aumenta todos os dias, de forma considerável. Valha-nos isso. Vai transformando a travessia do deserto mais fácil.
"Acusam-me de injúrias ao rei de Portugal? Porquê? Porque chamei à sua realeza uma tirania de engorda e vista baixa. [...] ora a história do rei de Portugal, a todos manifesta, em quatro palavras se desenha: Incúrias e desmandos, arbítrios e bocejos. é a verdade clara, verdadeira autêntica, verdadeira sinistra. Uns proclamam-na, outros murmuram-na. E quem a esconde, ou por dolo, ou por constrangimento, ou por temor, no fundo da alma reconhece-a." escrevia Guerra Junqueiro, nos idos de 1907, no jornal portuense A Voz Pública de 11 de Abril. Pois é, andamos nisto há um século...
25.Mai.07

Mudanças







Do "ubelogue" para o "prosas vadias". No fundo era isso mesmo que estava acontecer no antigo blog. A prosa corria ao sabor dos dias.

Problemas de configuração de conta google, obrigaram-me, a mudar de casa, dado que nem sequer consigo fazer o login do antigo blog. Vitíma de inépcia, ficou por ali, a pairar no limbo, que afinal não deixou de existir.

Hoje, a partir de nova casa, retornamos.
Como sempre, desalinhados, vadios, sem eira nem beira.
Conscientes, mas sem amos.
Na nova casa esperamos apenas que o senhorio, desta vez, seja um pouco mais condescendente. Veremos.