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PROSAS VADIAS

PROSAS VADIAS

01.Jun.07

A Figueira da Foz e o Mar. (Cólofon)



Pequeno excerto da possível "apresentação" inserta na proposta de trabalho para o mestrado, sobre o turismo figueirense, que estou a tentar realizar.
A modos que, como indicado no título, numa espécie de cólofon, nunca e em nada comparável ao difícil e penoso trabalho realizado pelos monges-copistas medievais, onde estes deixavam registados, para a posteridade, o quão árduo havia sido o trabalho. Neles exaravam desde os mais modestos aos mais extraordinários pedidos que povoavam as mentes desses extraordinários homens medievais.
Sensação, no entanto, muito aproximada, após percorrido o longo caminho da investigação, muita das vezes solitária e morosa, quando o labor da escrita começa a definir contornos de caminho.



"A difusão das práticas da vilegiatura, ao longo do século XIX e princípios do século XX, induziu o aparecimento de uma nova tipologia urbana, nas costas marítimas: a estância balnear. Esse movimento social e cultural em direcção ao mar, aos terrenos banhados por águas carregadas de iodo e sal, surge do encontro de dois "novos" comportamentos , o do indivíduo face ao mar, magistralmente descrito pelo historiador francês Alain Corbin(1), e o subsequente despertar de um "novo" tempo, o "tempo para o corpo", que André Rauch(2), descobre entre a amálgama das práticas ociosas, que se conjuga na vilegiatura genéricamente e, em particular, na prática dos banhos de mar e na vida quotidina das estâncias de veraneio, durante a época balnear.
Duas novas atitudes do homem face ao mar e ao corpo, que acabariam por desencandear, dois séculos após terem surgido entre a aristocracia europeia e cuja difusão, de forma capilar, entre os estratos sociais imediatamente inferiores, se procedeu de forma lenta, a massificação do turismo, em finais do século XX.
O denominado "turismo de massas", designado por Marc Boyer(3), como uma construção da história, é um fenómeno contemporâneo, sucessor das práticas elitistas vislumbradas desde meados do século XVIII e do lento processo de difusão entre as diferentes classes sociais, que eclode, com a pujança conhecida, após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Ambos os fenómenos, analisados e estudados no decurso do seminário "Turismo e Desenvolvimento" do Mestrado de História Social e Económica 2004/2006, orientado pelo Professor Doutor R. C., estão na origem deste trabalho de análise histórica, sobre o turismo na Figueira da Foz, entre as décadas de 1930 e 1950."



Pequena nota:


O incremento do turismo, em termos históricos, apesar dos seus aspectos económicos, insere-se nos campos da sociabilidade e das mentalidades, onde, no caso específico, se assiste à socialização da praia e do mar e das zonas envolventes. Representam, em si, o registo das alterações no campo do social, provocadas pela mudança das mentalidades, face ao mar e ao corpo. As "comunicações entre o indivíduo e o que o rodeia, os meios pelos quais recebe os modelos culturais"(4) acabaram por desencadear todo o processo de difusão e massificação do turismo, no seio da sociedade contemporânea.</p>



(1) Corbin, Alain, Le territoire du vide. L'Occidente et le désir du rivage 1750-1840, Paris, Aubier, 1988.


(2) Rauch, André, "As férias e a natureza revisitada (1830-1930)" in História dos tempos Livres, coord. Alain Corbin, Lisboa, editorial Teorema, 2001.


(3) Boyer, Marc, Histoire du tourisme de masse, Paris, PUF,1999.


(4) Duby, Georges, Para uma História das Mentalidades, Lisboa, Terramar, 1999.
Não cito páginas, esse é o trabalho que vos compete, se vos aprouver.
Foto: Cartilha de trato com o Banhista, Argel de Melo, Edição da Comissão Municipal de Turismo da Figueira da Foz, 1943.